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Kurupi itaata

O Kurupi foi um dinossauro carnívoro, bípede, que viveu no Brasil no final da era dos dinossauros. Com a altura de um ser humano e cinco metros do focinho até a cauda, nada podia escapar da boca cheia de dentes deste predador pré-histórico.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: DINOSAURIA

ORDEM: SAURISCHIA

SUBORDEM: TEROPHODA

INFRAORDEM: CERATOSAURIA

SUPERFAMÍLIA: ABELISAUROIDEA

FAMÍLIA: ABELISAURIDAE

GÊNERO: KURUPI

ESPÉCIE: KURUPI ITAATA

Kurupi

 Fig. 1: Arte de TheSickleClaw, retirado de https://www.deviantart.com/thesickleclaw/art/Kurupi-itaata-941515685.

DESCOBERTA:

   A cidade de Monte Alto, no estado de São Paulo, contém inúmeros fósseis no seu solo, algo que a mais de 100 anos vem sendo observado, sendo que a região, dentro da Bacia Bauru, contém diferentes tipos de formações geológicas do mesozoico, atraindo o interesse de pesquisadores e da população local. Uma dessas formações é a Formação Marília, que outrora se pensava abranger uma área que chegava até Uberaba em Minas Gerais. Hoje em dia, a porção mineira foi separada e recebeu o nome de Formação Serra da Galga, de modo que os animais pré-históricos daquela região não são mais pertencentes a Formação Marília.

   O Kurupi, batizado em 2021, se tornou o primeiro dinossauro descrito para a Formação Marília, algo muito importante levando-se em consideração que boa parte dos fósseis da região encontram-se fragmentados ou incompletos de modo a não se conseguir formalizar sempre a espécie de animal a qual pertenciam. Outra característica é que a região tem um solo muito duro e mais difícil de se trabalhar, frequentemente os pesquisadores são obrigados a utilizar maquinário mais pesado para escavar a terra.

   A história do Kurupi começa no ano de 2002, quando uma pélvis incompleta foi descoberta no terreno de um motel, localizado a um quilômetro do perímetro urbano da cidade, nomeado como sítio paleontológico Gaviões. O fóssil foi levado ao Museu de Paleontologia Prof. Antônio Celso de Arruda Campos, em Monte Alto, passado por uma preparação que identificou o osso como pertencente a um dinossauro carnívoro. A equipe do museu ficou incentivada com a descoberta e realizou novas prospecções no terreno do motel nos anos de 2006, 2009, 2013 e 2014, com a participação do próprio Antônio Celso de Arruda (1934-2015) no último ano e que resultou na retirada de uma vértebra.

   A remoção do material não foi fácil, devido a dureza do solo, sendo necessário a utilização de britadeira, ponteiros grandes e marretas. No museu o material foi devidamente preparado, sendo que o espécime estava originalmente numa área não maior que 10 metros quadrados. No total os fósseis são uma pélvis incompleta, três vertebras caudais e dois ossos indefinidos.

Com a participação de cinco autores na pesquisa, o Kurupi foi apresentado em 2021 através de artigo científico e um evento no museu de Monte Alto, seguindo orientações para prevenção da Covid-19, além de contar com uma réplica do dinossauro carnívoro que até hoje está em exposição.

Kurupi escavação.jpg

 Fig. 2: Foto da escavação de 2009, com a equipe trabalhando na retirada do material. Divulgação.

ETIMOLOGIA:

   O nome Kurupi faz referência ao Curupi, uma entidade ligada à cultura brasileira, com origens na tradição Guarani. Segundo consta, ele é um dos filhos de Tau, um espírito maligno, e Kerana, uma das primeiras mulheres, que tiveram mais seis filhos conhecidos como os sete monstros. O Curupi está associado à sensualidade e a sexualidade e, como os fósseis do dinossauro foram desenterrados próximos ao um motel, seus descobridores decidiram fazer essa analogia ligando ao folclore brasileiro. Importante ressaltar que o Curupi é reconhecido como um espírito e não um tipo de deus, conforme fora divulgado.

   O nome da espécie, itaata, é a junção das palavras em Tupi ita, que significa pedra, e ata, que quer dizer duro, ou seja, pedra dura, sendo uma referência às rochas da Formação Marília, que são muito duras e deram muito trabalho aos pesquisadores para se coletar os fósseis e prepará-los.

Kurupi

 Fig. 3: Fósseis encontrados do Kurupi, arte de Maurissauro, retirado de https://www.deviantart.com/maurissauro/art/Day-2-Kurupi-itaata-WIP-899608092

O DINOSSAURO:

   O Kurupi media 5 metros de comprimento, era carnívoro, bípede, devia ter a altura de uma pessoa adulta, não chegando a dois metros, sua cauda era longa e servia para dar equilíbrio, além de possuir pequenos braços com quatro dedos, quase não funcionais com alguns centímetros de comprimento. Embora sem muitas evidências, se compararmos com seus parentes, provavelmente tinha um crânio curto, com dentes serrilhados e uma mordida poderosa, de modo a qualquer presa sua não conseguir escapar e ter seus ossos esmagados pela pressão.

   Outra característica observada nos abelissaurídeos é a presença de chifres ou córneas sob a cabeça, provavelmente usados para atrair parceiros ou mesmo durante brigas com rivais. Deveria vagar grandes distancias atrás de comida e água, seu corpo era robusto o suficiente para lhe permitir explorar todos os recursos disponíveis no ambiente.

   Estima-se que viveu no final do Período Cretáceo, entre 72 e 65 milhões de anos atrás, na idade do Maastrichtiano, um tempo na qual o meio ambiente de Monte Alto era bem diferente, com um clima semiárido, com paisagens de montanhas e vulcões, chuvas apenas em determinadas estações e altas temperaturas. Mesmo diante dessas dificuldades, dinossauros como ele prosperaram muito bem, visto que anos de adaptação evolutiva permitiram isso.

   Conterrâneo de outros dinossauros e crocodilomorfos terrestres, o Kurupi está entre os maiores predadores daquele tempo, com o comprimento semelhante ao Majungassauro de Madagascar. Apesar disso, ele era apenas de médio porte comparado a outros abelissauros, inclusive com o maior de todos, o Pycnonemossauro, também brasileiro. Sua descrição é o primeiro passo para que novas descobertas na região sudeste brasileira sejam feitas, visto a escassez de informações que ainda hoje temos sobre dinossauros carnívoros no sudeste brasileiro durante o Cretáceo, mesmo eles estando presentes durante do início ao fim da era dos dinossauros.

   Por fim, o Kurupi foi o quarto abelissauro descrito para o Brasil, devido aos poucos fósseis não se tem certeza sobre qual família específica pertencia. O indivíduo achado era adulto, havia morrido em um local próximo a água e, mesmo permanecido exposto ao ambiente após a morte, seu corpo quase não foi deslocado e fora soterrado com o tempo, se preservando até sua descoberta.

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Fig. 4: Arte de Julia D´Oliveira, divulgação.

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