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Candidodon itapecuruense

O Candidodon itapecuruense foi um animal aparentado de répteis como jacarés, porém de hábitos terrestres, descoberto no Brasil cujo fóssil mostrou um animal com dentes característicos de mamíferos e parentesco com outro animal do continente africano.  

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA

CLADO: CROCODYLIFORME

CLADO: MESOEUCROCODYLIA

SUBORDEM: NOTOSUCHIA

FAMÍLIA: CANDIDODONTIDAE

GÊNERO: CANDIDODON

ESPÉCIE: CANDIDODON ITAPECURUENSE

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Fig. 1: Concepção paleoartística da aparência aproximada de Candidodon itapecuruense. Ilustração: Felipe A. Elias.

DESCOBERTA:

   Vestígios de dentes crocodiloformes foram encontrados pelo professor Cândido Simões Ferreira no ano de 1962 na região de Itapecuru-mirim, a 120 km da cidade de São Luís, no estado do Maranhão, região da Bacia do Parnaíba, Formação Itapecuru.  A partir da década de 80 iniciou-se um grande projeto de pesquisa na região, financiada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a fim de mapear a área e coletar fósseis.

  A descrição do animal aconteceu em 1988, porém ele foi identificado inicialmente como um mamífero triconodonte, devido à sua heterodontia muito parecida com a de mamíferos. Somente em 1994 ele foi apresentado oficialmente como um membro dos crocodilomorfos, pelo professor Ismar de Souza Carvalho. Até o momento já foram encontradas dentes, vértebras pré-sacais, escapulas, o úmero, ulna, rádio, metatarso, fêmur, fíbula, falanges e osteodermas, pertencentes a diferentes animais do gênero. 

O ANIMAL:

 

   O nome Candidodon itapecuruense é uma homenagem ao professor Cândido Simões e, também, a região em que foi encontrado o crocodilomorfo. Tinha, provavelmente, um metro de comprimento, sendo que um indivíduo jovem encontrado media 80 centímetros.

   Sua aparência era de um crocodilo com escamas, conforme seus fósseis mostram o Candidodon tinha um focinho curto, crânio alto e narinas posicionadas para frente, indicando se tratar de um animal de hábitos terrestres. A espécie viveu a aproximadamente 110 milhões de anos no Cretáceo Inferior, Albiano, tendo sobrevivido até o início do Cenomaniano (100 milhões de anos), conforme dentes encontrados na Formação Alcântara, Ilha do Cajual, no Maranhão.

   Inicialmente pensou-se que o espécime descoberto era um mamífero devido às características dos seus dentes, apresentando dentes com heterodontia, pré-molariformes e molariformes típicos de mamíferos. Tal fato indica que Candidodon possuia uma alimentação variada e, provavelmente, preencheu o nicho ecológico que hoje pertence aos mamíferos, com uma alimentação onívora ou insetívora.

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Fig. 2: Fósseis de Candidodon, osteodermas, ossos longos, parte do crânio. Imagem adaptada de Santos, 2014. 

DENTES DE MAMÍFEROS:

 

  Como primeiramente apenas seus dentes foram identificados, os pesquisadores Ismar de Souza Carvalho e Diógenes de Almeida Campos associaram o material a um mamífero primitivo. Dado a raridade de fósseis de mamíferos sul-americanos durante a Era Mesozóica, encontrar dentes já era um achado significativo e, como na época, se tinha pouco registro de crocodilos terrestres com heterodontia, os paleontólogos tinham quase certeza que eram dentes de mamíferos.

   A mudança de perspectiva ocorreu já no outro ano, em 1989, quando no país africano Malawi, paleontólogos descreveram um crocodiliano terrestre, o Malawisuchus, que tinha dentes muito similares ao Candidodon. Notado tal fato e, posteriormente, com a descoberta da mandíbula e outros matérias do Candidodon, foi possível determinar que ele era um réptil.

   Tais dentes davam ao Candidodon um aspecto inesperado, ele podia mastigar o alimento da mesma forma que mamíferos, portanto deviam viver no mesmo nicho ecológico que era esperado para os mamíferos. Outro ponto está no parentesco com animais africanos da época, algo que já fora detectado graças a espécies diferentes de Araripesuchus encontrados nos dois lados do Atlântico. Supõe-se que a América do Sul ainda estava ligada à África 100 milhões de anos atrás, e que o Oceano Atlântico ainda era divido entre norte e sul por uma massa de terra.

 

 

IMPORTÂNCIA PALEONTOLÓGICA:

 

   Comparando os fósseis pode-se certificar o parentesco entre o Malawisuchus mwakasyungutiensis que viveu em Malawi, comprovando uma troca faunística entre a África e o Brasil ainda no Albiano. Além disso, outras comparações de início identificaram o Urugaysuchus aznarezi e Araripesuchus patagonicus como parentes próximos. Porém, foi proposto que tanto o Candidodon quanto o Malawisuchus fossem incluídos numa nova família batizada de Candidodontidae, visto as similaridades entre os gêneros.

   Candidodon viveu num ambiente com certa abundância de rios e lagos, ao mesmo tempo com o clima semi-árido do início do Cretáceo, dividindo espaço com grandes dinossauros herbívoros e carnívoros. Ele também inaugurou uma série de estudos que mais tarde identificariam crocodilianos terrestres que possuem hábitos alimentares inesperados: não seriam apenas carnívoros, mas também onívoros, insetívoros e herbívoros. Muitos desses achados ocorreram no Brasil, com um foco importante na Bacia Bauru, que têm uma grande variedade fósseis desses animais. Até o momento, estima-se que já foram desenterrados entre 5 e 3 Candidodons, estando entre os fósseis ao menos um jovem.

   A incerteza da quantidade exata está no fato de existirem materiais muito fragmentados e desarticulados que precisam passar por mais estudos. Infelizmente, tal fato poderá não mais ocorrer, pois todo material descoberto até o momento do Candidodon estava guardado no Museu Nacional, na cidade do Rio de Janeiro, que devido à falta de manutenção por parte do governo incendiou-se no dia 02 de Setembro de 2018. Os fósseis, que eram frágeis e durante a prospecção e retirada da rocha partiam-se, podem não ter sobrevivido ao fogo e altas temperaturas a que foram expostos.

   Muito estudos já haviam sido feitos, desde artigos, trabalhos e dissertações escritos graças a análise dos fósseis do Candidodon, tendo ocorrido microtomografia dos fósseis e até mesmo a aparição do Candidodon no livro Realidade Oculta do autor Tito Aureliano. A perda do material dele é de grande avaria para a Ciência, para a Paleontologia Brasileira e para aqueles que observam de perto e são amantes do mundo pré-histórico. Que ele não seja esquecido e deixado de lado, mas recordado como um dos primeiros a incentivar novas pesquisas paleontológicas ainda no Brasil.

 

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Fig. 3: Imagem adaptada: Crânio de Candidodon retirado de Nobre e Carvalho, 2002 e reconstituição de Candidodon, retirado de https://www.paleolab.com.br/pt/fosseis-estudados (20/09/18 às 22:00h).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=382

 

http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/brc/33004137035P2/2006/elias_fa_me_rcla.pdf

 

CARVALHO, I.S. & CAMPOS, D.A. Um mamífero triconodonte do Cretáceo Inferior do Maranhão, Brasil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 60, n. 4, p.437-446, 1988.

 

CARVALHO, I. S. Candidodon: um crocodilo com heterodontia (Notosuchia, Cretáceo Inferior - Brasil). Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, V. 66, p. 331-346, 1994.

NOBRE, P. H.; CARVALHO, I. S. Osteologia do crânio de Candidodon itapecuruense (Crocodylomorpha, Mesoeucrocodylia) do Cretáceo do Brasil. In: Simpósio do Cretáceo do Brasil, 6, 2002, São Pedro. Boletim do 6º Simpósio sobre o Cretáceo do Brasil Rio Claro: Universidade Estadual Paulista, 2002, p. 77-82.

 

NOBRE; P. H.. Morfologia pós-craniana de Candidodon itapecuruense (Crocodylomorpha, Mesoeucrocodylia) do Cretáceo do Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia 7(1): 87-92, Janeiro/Junho 2004.

 

SANTOS, B. R. C.; CARVALHO, I. S.; MEDEIROS, M. A. A.; SANTOS, R. A. B. Dentes de Candidodon itapecuruense da Ilha do Cajual (Formação Alcântara), Cretáceo do Maranhão. In: XXII Congresso Brasileiro de Paleontologia, Natal. Atas. p. 728-730.

 

SANTOS, B. R. C. Análise do Pós-Crânio de Candidodon Itapecuruense (Crocodyliformes) da Formação Itapecuru, Bacia do Parnaíba. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro. UFRJ, ano da obtenção: 2014.

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