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Labidiosuchus amicum

O Labidiosuchus foi um pequeno crocodilomorfo terrestre que viveu no território brasileiro durante o período Cretáceo. Adaptado a viver em climas quentes, ele possuía uma dentição bem diferente que provavelmente o permitia triturar alimentos e variar sua alimentação.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA

CLADO: CROCODYLIFORME

CLADO: MESOEUCROCODYLIA

SUBORDEM: NOTOSUCHIA

FAMÍLIA: INDETERMINADA

GÊNERO: LABIDIOSUCHUS

ESPÉCIE: LABIDIOSUCHUS AMICUM

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Fig. 1: Arte de Jorge Blanco (2018) / Divulgação

DESCOBERTA:

 

   A cidade de Uberaba, estado de Minas Gerais, foi o epicentro de grandes prospecções fósseis entre os anos de 1949 e 1961, mais especificamente o bairro rural de Peirópolis. Foram coletados dezenas de fósseis, desde pequenos répteis, restos de peixes, ovos e grandes dinossauros. Alguns destes elementos foram estudados e batizados por cientistas, como o caso do saurópode Baurutitan. Toda esta movimentação ocorreu graças à Llewellyn Ivor Price, gaúcho, paleontólogo e entusiasta da ciência, foi devido às suas atividades que hoje se conhece muito sobro o passado brasileiro.

   As escavações foram interrompidas na década de 60 devido à poucos achados relevantes. Em 1987, contudo, a procura por fósseis foi retomada com o apoio conjunto do Município de Uberaba e o Departamento Nacional de Produção Mineral, vinculado ao Museu Nacional (Rio de Janeiro). Pesquisadores iniciaram a busca por novos elementos e, dentro deste contexto, os restos fósseis do Labidiosuchus foram descobertos. O local da descoberta foi a Serra do Veadinho, também batizada de Ponto 1 de Price, da qual foi desenterrado pelo paleontólogo Sérgio A. K. Azevedo uma mandíbula que se pensava tratar-se de restos de um dinossauro herbívoro, servindo como material para um artigo em 1992.

   Com os anos e mais estudos, constatou-se o equívoco e o material foi analisado mais uma vez. Embora seja fragmentário e incompleto, os cientistas concluíram que se tratava de um crocodilomorfo terrestre, de dentição bem diferente inclusive. No ano de 2011, Sérgio Azevedo com seus colegas Alexander Kellner e Diógenes Campos batizaram o novo espécime de crocodilo terrestre, aumentando ainda mais o número de animais conhecidos pela ciência que viveram no Brasil durante o final do Período Cretáceo.

 

 

ETIMOLOGIA:

 

   O nome do pequeno Labidiosuchus vem da palavra grega labis, que significa algo parecido a pinça, tenaz ou fórceps (aparelho usado para retirar bebê na hora do parto), pois os dentes da frente se assemelham a estes objetos. Unido a ela estava a palavra souchus que em grego significa crocodilo. O nome da espécie é amicum, origina-se do latim amicus que significa amigo. Esta é uma pequena homenagem feita para os moradores do bairro de Peirópolis, que muito contribuem para conservação dos fósseis e preservação do passado geológico da região.

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Fig. 2: Mandíbula em forma de Y de Labidiosuchus, com dentes identificados (A- reconstrução / B – fotografia do fóssil) retirado de Kellner, Azevedo & Campos, 2011. 

O ANIMAL:

 

   O Labidiosuchus era um pequeno crocodilomorfo terrestre, de um metro de comprimento, quadrúpede, com uma cabeça pequena, rabo longo e recoberto de escamas parecidas com as de jacarés. Não se tem muita informação do seu corpo de modo geral devido a terem identificado apenas a mandíbula do animal, que é bem diferenciada em relação aos crocodilos modernos.

   Da mandíbula foram identificados uma fileira de 8 dentes, lado a lado, e com o formato Y, sendo que os dois primeiros dentes eram mais longos e se projetavam fora da boca. Os dentes interiores eram oblíquos ou tinham uma cúspide com ápice agudo, algo inusitado que pode indicar hábitos onívoros ou mesmo herbívoro para esse pequeno réptil. Não é por acaso pensarem se tratar de um dinossauro herbívoro quando iniciaram a análise do fóssil, visto que tal dentição indica uma capacidade de mastigar e triturar alimentos, fato não observado atualmente nos crocodilianos.

   O fato de apenas parte da mandíbula ter sido descoberta dificulta a classificação da família do Labidiosuchus, embora seja possível que ele fosse próximo dos Esfagessaurídeos dada a dentição especializada. Ainda assim, ele é mais uma prova que os crocodilomorfos evoluíram durante o Cretáceo para sobreviver nos diferentes nichos da época, ressaltando o clima árido da época. O Ponto 1 de Price, local da descoberta do Labidiosuchus, apresenta camadas geológicas da era Maastrichtiana, entre 72,1 e 66 milhões de anos atrás, no final do Período Cretáceo, Formação Marília dentro do Grupo Bauru, época que o bioma brasileiro contava com extremos de chuvas torrenciais a climas secos com temperaturas até 60º célsius.

   Com a mandíbula mais especializada, o Labidiosuchus poderia ter adotado hábitos alimentares específicos para sobreviver neste clima intenso: em épocas mais amenas ele se alimentaria de plantas, com a seca sua busca de comida levava a predação de outros animais, insetos e até carniça. Talvez também fosse um animal ágil, seu tamanho pequeno deveria auxiliar na fuga dos ataques de predadores maiores, alguns até da sua própria família. 

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Fig. 3: Arte de Jorge Blanco (2018) / Divulgação

PALEOTOCA:

   Com a estiagem severa e temperaturas elevadas, o Labidiosuchus se entocava para conseguir sobreviver, pois a temperatura interna mantinha-se abaixo do intenso calor ambiente, além de ser uma proteção extra contra predadores. Importante observar que este hábito não era exclusivo desta espécie, mas também utilizado por outros crocodilomorfos pré-históricos contemporâneos.

   Apesar disto, nenhuma evidência concreta de paleotoca havia sido encontrada por paleontólogos. Tal fato só ocorreria em novembro de 2018, devido à observação atenta de Agustín Martinelli, paleontólogo argentino que fazia pesquisa de campo em Uberaba. Ele notou que num paredão rochoso destacava-se uma estrutura afunilada com coloração diferente do restante do solo. Com apoio de colegas brasileiros, ele analisou e conclui que tratava-se de uma paleotoca, com 1,3 metros de comprimento e altura da base ao teto variando entre 17 a 25 centímetros. A estrutura fora preenchida por uma mistura de areia e lama que a preservou por todo este tempo.

   O local do achado foi o Ponto 1 de Price e, com base no tamanho da toca, estipula-se que o crocodilomorfo que o fez tenha sido o Labidiosuchus, ressaltando que a descoberta do primeiro indivíduo do gênero foi na região. Em maio de 2019 estes mesmos pesquisadores divulgaram uma pesquisa sobre o fato na revista Internacional Paleo, destacando que analisaram a toca, fotografaram e registram a mesma, para depois escavá-la minuciosamente em busca de qualquer fóssil no local. Infelizmente não encontraram nada, ainda assim isto não diminuiu a relevância do achado, até então evidência inédita para o Período Cretáceo.

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Fig. 4: Fotografia da Paleotoca (A-imagem natural / B-imagem retocada, retirado de Martinelli et. al. 2019).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Kellner, A.W.A., Figueiredo, R.G., Azevedo, S.A.K., Campos, D.A., 2011. A new Cretaceous notosuchian (Mesoeucrocodylia) with bizarre dentition from Brazil. Zoological Journal of the Linnean Society. 163, 109–115.

 

Martinelli, Agustín G., et al., 2019. "Palaeoecological Implications of an Upper Cretaceous Tetrapod Burrow (Bauru Basin; Peirópolis, Minas Gerais, Brazil)." Palaeogeography, palaeoclimatology, palaeoecology, v. 528, 147-159.

 

https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2019/05/29/primeira-paleotoca-do-fim-da-era-dos-dinossauros-da-america-do-sul-e-descoberta-no-complexo-de-peiropolis.ghtml

 

http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,706

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