DINOSSAUROS & AFINS
Caipirasuchus mineirus
O Caipirasuchus de Minas Gerais era um pouco diferente de seus parentes paulistas, porém ainda trazia consigo características bem únicas dos Caipirasuchus, como sua dieta praticamente herbívora e sua total adaptação ao meio terrestre.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA
CLADO: CROCODYLIFORME
CLADO: MESOEUCROCODYLIA
SUBORDEM: NOTOSUCHIA
FAMÍLIA: SPHAGESAURIDAE
SUBFAMÍLIA: CAIPIRASUCHINAE
GÊNERO: CAIPIRASUCHUS
ESPÉCIE: CAIPIRASUCHUS MINEIRUS
Fig. 1: Arte de Rodolfo Nogueira, divulgação.
DESCOBERTA:
Desde 2009 a Universidade Federal do Triangulo Mineiro, através do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, conduz uma série de prospecções de fósseis no município de Campina Verde, estado de Minas Gerais. Localizada no triângulo mineiro, essa cidade tem apresentado diversos registros de antigos animais do Cretáceo brasileiro. Um ponto em destaque é a Fazenda Três Antas, que fica no distrito de Honorópolis, zona rural do município e que tem sido local de achados de restos de dinossauros e outros répteis, entre eles o crocodilomorfo Campinasuchus, descoberto em 2009.
Abaixo do local do achado Campinasuchus, durante escavações em julho de 2014, foram detectados restos de um crocodiliano muito bem preservado. A equipe do centro de pesquisa agiu de modo a retirar todo o bloco de terra para retirar todo o restante do animal num local mais controlado, evitando assim danos no material frágil. Uma vez devidamente escavado e preparado, seus descobridores examinaram atentamente o seu esqueleto e perceberam que o réptil era muito semelhante às outras três espécies de Caipirasuchus conhecidas, se tratando dum novo tipo inédito.
Este seria o primeiro Esfagessaurídeo descrito em Minas Gerais, visto que o Labidiosuchus, descrito em 2011 na cidade de Uberaba, ainda consta com uma família indeterminada. O Caipirasuchus também possui um esqueleto quase completo, articulado, ou seja, intacto desde que o animal morreu, além de conter as osteodermas e a pélvis, sendo a bacia um material não encontrado até aquele momento em outros Caipirasuchus.
O Caipirasuchus mineirus foi batizado e oficialmente descrito em artigo científico em 2018, com autoria dos paleontólogos Agustín Martinelli, Thiago Marinho, Fabiano Iori e Luiz Carlos Ribeiro. O fóssil encontra-se como parte do acervo do Museu dos Dinossauros, no bairro rural de Peirópolis, na cidade de Uberaba, cerca de 200 quilômetros da cidade de Campina Verde, ainda no estado de Minas Gerais.
ETIMOLOGIA:
O nome do gênero Caipirasuchus vem da palavra caipira que se originou do termo tupi ka´apir cunhado para os portugueses que adentravam o interior, significando cortador de mato, além de ser usado como referência a toda população que mora distante das capitais, em zonas rurais. Já o nome da espécie, mineirus, está atrelado ao fato de ter sido descoberto no estado de Minas Gerais, estado brasileiro na qual o termo caipira, curiosamente, ainda é uma referência para a população, visto a grande quantidade de cidades interioranas.
Fig. 2: Foto do momento em que se extraia o fóssil do Caipirasuchus, retirado de https://bhaz.com.br/noticias/minas-gerais/fossil-crocodilo-peiropolis/
O ANIMAL:
O Caipirasuchus de Minas Gerais media 70 centímetros de comprimento, tinha uma cabeça triangular, seus dentes tinham o formato de folha, com a mandíbula se unindo na ponta da boca, andava de modo ereto, muito semelhante a cães e gatos, sendo um crocodiliano totalmente terrestre. Sua cauda era mais curta comparado aos Caipirasuchus paulistas, sendo o tipo mineiro menor, além de se diferenciarem nas placas ósseas nas costas, visto que o Caipirasuchus mineiro as tinha da metade das costas até a cauda, e seus parentes contavam com as osteodermas até o pescoço.
Caipirasuchus pertencia a família dos Esfagessaurídeos, um grupo de crocodilomorfos que evolui no território brasileiro, se tornando animais muito parecidos com os pequenos mamíferos, sendo sua dieta voltada para a herbivoria. Os Caipirasuchus foram um dos mais diversos da família, embora sua dieta possa variar desde insetos, moluscos e até as plantas daquele tempo. As diferenças de cada espécie podem estar atreladas às adaptações para sobreviver no seu bioma, levando em consideração que o Caipirasuchus estava no começo da cadeia alimentar, ou seja, era caçado por dinossauros e outros animais daquele tempo.
Por ter sido descoberto na Formação Adamantina, do Grupo Bauru, estipula-se que tenha vivido durante o período Cretáceo, entre 93 e 83 milhões de anos atrás, em algum momento entre as idades Turoniano, Coniaciano e Santoniano. Esta incerteza nas idades se deve a algumas discordâncias entre os cientistas, embora fosse contemporâneo às espécies de Caipirasuchus paulistas.
Naquele tempo, aquela porção de Minas Gerais tinha um clima árido, mas com chuvas de estação que abasteciam lagos e rios, permitindo que a fauna local vivesse bem ao longo do ano. Vizinho de grandes dinossauros, como os carnívoros abelissauros e os pacíficos titanossauros, além de compartilhar o ambiente com outros crocodilianos terrestres, o Caipirasuchus devia se utilizar de várias estratégias de sobrevivência, como a camuflagem, a agilidade quando necessário e, uma das características mais famosa desses répteis antigos, escavar e se abrigar nas tocas, fugindo inclusive do calor mesozoico.
Fig. 3: Fóssil preparado do Caipirasuchus, retirado do artigo original.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MARTINELLI, AGUSTÍN G.; MARINHO, THIAGO S.; IORI, FABIANO V.; RIBEIRO, LUIZ CARLOS B. The first Caipirasuchus (Mesoeucrocodylia, Notosuchia) from the Late Cretaceous of Minas Gerais, Brazil: new insights on sphagesaurid anatomy and taxonomy. PeerJ, v. 6, p. e5594, 2018.
https://bhaz.com.br/noticias/minas-gerais/fossil-crocodilo-peiropolis/