DINOSSAUROS & AFINS
Morrinhosuchus luziae
O Morrinhosuchus luziae foi uma espécie de crocodilomorfo que viveu no Brasil durante o Período Cretáceo. De porte pequeno, este animal viveu junto aos grandes dinossauros e apresenta características inusitadas em sua dentição, indicando que poderia ter uma alimentação onívora.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA
CLADO: CROCODYLIFORME
CLADO: MESOEUCROCODYLIA
SUBORDEM: NOTOSUCHIA
FAMÍLIA: INDETERMINADA
GÊNERO: MORRINHOSUCHUS
ESPÉCIE: MORRINHOSUCHUS LUZIAE
Fig. 1: retirado de https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f4/Morrinhosuchus.jpg (21/06/2015, às 19:50).
DESCOBERTA:
Os primeiros fósseis do Morrinhosuchus foram descobertos na zona rural do município de Monte Alto, estado de São Paulo, consistindo de diferentes partes do crânio e da mandíbula de um único indivíduo. A localidade do achado fica no Morrinho de Santa Luzia, a 13 quilômetros da cidade, cujo topo possui uma capela em devoção a Santa Luzia. A região pertence à Formação Adamantina, dentro da Bacia Bauru, datando entre as idades do Turoniano e Santoniano (entre 93,9 e 83,6 milhões de anos atrás). Depois de descoberto, os fósseis foram preparados, estudados e o animal apresentado ao mundo em dezembro de 2009, pelos paleontólogos Fabiano Vidoi Iori e Ismar de Souza Carvalho. O artigo científico da analise do Morrinhosuchus foi escrito na Língua Portuguesa, algo raro, mesmo se tratando de um trabalho de brasileiros sobre fósseis brasileiros.
Através de prospecção em outras regiões, mais dois fósseis relacionados à espécie Morrinhosuchus luziae foram descobertos, porém não no exato local do holótipo. Em 2007, o agricultor Sérgio Luiz Frare encontrou restos do animal na Fazenda Santa Irene, ainda na cidade de Monte Alto, consistindo em crânio e mandíbula quase completos, utilizados numa pesquisa mais detalhada sobre este crocodilo terrestre divulgada em 2016. O outro fóssil é oriundo da cidade de Cândido Rodrigues, estado de São Paulo, consistindo em fósseis da mandíbula e da região rostral do crânio do animal. Todos os materiais, inclusive o que serviu para a identificação do Morrinhosuchus estão no Museu de Paleontologia de Monte Alto, São Paulo.
Com base nesses fósseis, além do trabalho de campos de outros pesquisadores, apoio e orientação de diferentes paleontólogos, foi possível apresentar um novo trabalho acadêmico sobre a espécie em Fevereiro de 2018, no periódico científico ‘Cretaceous Research’, assinado por Fabiano Vidoi Iori, Ismar de Souza Carvalho e Thiago da Silva Marinho.
ETIMOLOGIA:
O nome Morrinhosuchus faz referência à localidade de seu achado, o Morrinho de Santa Luiza, e luziae se refere à Santa Luzia, devido à existência de uma capela com referência a ela no local.
Fig. 2: Reconstrução do Morrinhsuchus, arte de Raul Tabajara e Deverson da Silva (Pepi), retirado de Iori & Campos 2018).
O ANIMAL:
Morrinhosuchus era um réptil pequeno, talvez medisse 0,5 metros, e seus dentes, 2 dentes pré-maxilares e 6 maxilares, demonstraram que ele era um animal de hábitos onívoros, ou seja, conforme indicam seus dentes, alimentava-se de diferentes fontes de alimentos como plantas e carnes. Os fósseis da mandíbula, dentes e o crânio indicam a semelhança deste animal com o Mariliasuchus, um crocodilomorfo do Brasil com as mesmas tendências ao habito alimentar onívoro. Paleontólogos também perceberam que o réptil era um parente próximo dos Baurusuchus, predadores crocodilianos terrestres também encontrados em solo brasileiro.
O local de seu achado indica que o ambiente do Morrinhosuchus era árido e semiárido, então a capacidade de se alimentar de várias fontes deveria ser uma grande vantagem para esta espécie, que poderia sofrer de escassez alimentar em certos momentos. Outra característica presente em muito crocodilomorfos pré-históricos, o hábito de viver em tocas, permitiu que pesquisadores criassem a possibilidade do Morrinhosuchus ter hábitos de vida muito semelhante à dos Suricatos.
Esses mamíferos africanos modernos vivem em grupo, se alimentam de pequenos animais e insetos, utilizam tocas como forma de proteção e equilíbrio da temperatura corpórea. A vida do Morrinhosuchus pode ter sido semelhante, afinal ele também vivia num clima quente e árido, sua alimentação podia variar entre insetos, plantas e carne, abrigava-se em tocas e, provavelmente, viveriam em grupos para se proteger de predadores. Todas essas possibilidades levantadas fazem deste réptil antigo um protótipo do que é a vida de muitos mamíferos atuais, visto que os personagens mudaram ao longo de milhões de anos, mas muitos ecossistemas atuais se parecem com os de tempos antigos, forçando os animais atuais à se adaptarem como outrora fizeram outros.
Fig. 3: Primeiros fósseis do Morrinhosuchus encontrados, crânio e mandíbula (imagem adaptada retirado de Iori & Carvalho, 2009).
CROCODILIANOS INUSITADOS:
A região da Bacia Bauru tem apresentado uma variedade incrível de crocodilomorfos, inclusive na região da cidade de Monte Alto já foram catalogadas pelo menos cinco espécies diferentes. Algumas destas espécies apresentam uma dentição muito diferenciada, muito semelhante a dos mamíferos, mostrando que esses animais comiam diferentes coisas: eram carnívoros, herbívoros, onívoros, insetívoros entre outros.
Uma razão para esta adaptação pode estar relacionada com o clima árido da região, propiciando que os animais procurassem outras formas de alimento, sem mencionar que a ausência expressiva de mamíferos pequenos, que normalmente exploram esta situação, permitiu que os crocodilomorfos, como o Morrinhosuchus, prosperassem em boa parte do, então, continente Gondwana.
O Morrinhosuchus foi encontrado em rochas da Formação Adamantina, provavelmente habitou o antigo território brasileiro entre 93,9 a 83,6 milhões de anos trás. O fato de mais indivíduos terem sido encontrados em outras regiões, não só fez com que o conhecimento geológico de cada região fosse melhor interpretado, como também é um forte indicativo de que a espécie se espalhou e estava bem adaptada ao meio ambiente daquele tempo, mesmo sendo um animal pequeno em comparação aos gigantescos dinossauros com quem compartilhavam o mundo.
Fig. 4: Concepção artística do Morrinhosuchus, Arte de Pepi, retirado de Iori & Carvalho, 2009.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Iori, F.V.; Carvalho, I.S. (2009). "Morrinhosuchus luziae, um novo Crocodylomorpha Notosuchia da Bacia Bauru, Brasil". Revista Brasileira de Geociências 39 (4): 717–725.
Iori, F. V., et al. "Cranial morphology of Morrinhosuchus luziae (Crocodyliformes, Notosuchia) from the Upper Cretaceous of the Bauru Basin, Brazil." Cretaceous Research 86 (2018): 41-52.
Iori, F. V.; Campos, A. C. A. (2016) “Os Crocodiliformes da Formação Marília (Bacia Bauru, Cretáceo Superior) na Região de Monte Alto, Estado de São Paulo, Brasil”. Rev Bras Paleontol 19: 537-546.