DINOSSAUROS & AFINS
Baurutitan britoi
Os restos do Baurutitan foram encontrados por Llewellyn Ivor Price, famoso paleontólogo brasileiro, na região de Peirópolis, estado de Minas Gerais. Sua descoberta ocorreu no ano de 1957, contudo somente em 2005 ele foi oficialmente apresentado à público, como sendo um dinosauro herbívoro de pescoço e cauda longos.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
SUPERORDEM: DINOSAURIA
ORDEM: SAURISCHIA
SUBORDEM: SAUROPODOMORPHA
INFRAORDEM: SAUROPODA
CLADO: TITANOSAURIA
FAMÍLIA: AEOLOSAURIDAE
TRIBO: AEOLOSAURINI
GÊNERO: BAURUTITAN
ESPÉCIE: BAURUTITAN BRITOI
Fig. 1: retirado de http://felipe-elias-portfolio.blogspot.com (02/11/2014 às 15:05)
DESCOBERTA:
Os trabalhos de Price em Peirópolis (que é bairro rural de Uberaba), Minas Gerais, iniciaram em 1947 depois que Jesuíno Felicíssimo Junior, do Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo, lhe disse sobre a presença de fósseis na região. Price então foi até uma antiga pedreira, conhecida como Pedreira Caieira, na Fazenda São Luís, onde começou a fazer escavações.
Era um local com grande quantidade de fósseis, sendo recuperados restos de tartarugas, crocodilomorfos, dinossauros terópodes e saurópodes, fragmentos de peixes, invertebrados de água doce (gastrópodes, bivalves), icnofósseis, fragmentos de xisto de ovos e restos de plantas. Algumas vezes foi necessária a utilização de explosões com dinamite para retirar o material incrustado na rocha.
Dentre os achados estavam uma série de 19 vértebras (o último sacral e 18 caudais), batizadas como Série “C” que remetiam a um saurópode da família dos titanossauros, sendo mais tarde relacionadas ao Baurutitan.
Houve expedições em Caieira nos anos de 1949, 1950, 1953, 1955, 1957, 1958, 1959 e 1961, sendo este o último ano devido a poucos achados relevantes. Todo material encontrado foi armazenado na coleção do Museu de Ciências da Terra (MCT) do Departamento Nacional de Produção Mineral.
Fig. 2: Posição dos fósseis encontrados em Caieira, conforme desenho de PRICE. Retirado do artigo original (Kellner et. al., 2005).
ETIMOLOGIA:
O nome Baurutitan vem da junção da palavra bauru, que faz alusão à região geográfica do achado, dentro do Grupo Bauru, e a palavra titã dos mitos gregos. Já britoi é dado em honra de Ignácio Aureliano Machado Brito (1938-2001), um importante paleontólogo brasileiro que aconselhou o estudo e descrição deste dinossauro, cujos fósseis permaneceram guardados por muitos anos.
O DINOSSAURO:
O Baurutitan era um saurópode, dinossauro herbívoro que deve ter medido de 12 a 14 metros de comprimento e tido uma altura em torno de 3,5 metros. Viveu no Período Cretáceo, na era Maastrichtiana, entre 72 e 66 milhões de anos atrás, na região pertencente à Formação Serra da Galga, antigamente atribuida à Formação Marília.
Seus hábitos não deviam ser diferentes de outros saurópodes: deveria viver em bandos, pastando enormes quantidades de alimentos para se sustentar, além de compartilharem o território com outros saúropodes que vivam na região. Uma caracteristica dessa familia está no formato de barril de seu corpo, bem como os pés dianteiros serem desprovidos de dedos, quase como uma massa cônica que sustentava seu enorme peso.
Seu esqueleto muitas vezes foi utilizado para se comparar e proporcionar uma visão de como eram outros titanossauros que não tiveram seus restos bem preservados. O Baurutitan foi o quarto saurópode descrito no Brasil, depois de Antarctosaurus (considerado “nomen dubios”), Gondwanatitan e Amazonsaurus, sendo descrito em 2005 em artigo cientifico. Contudo, na época, ele não demonstrou ter parentesco direto com nenhum titanossauro, mas hoje em dia sabe-se que sua família eram os Aeolossauros, com representantes tanto no Brasil quanto na Argentina.
Fig. 3: retirado de http://www.uftm.edu.br/museudosdinossauros/images/stories/fosseis/Baurutitan.jpg (02/11/2014 ás 16:00).
BAURUTITAN E TRIGONOSSAURO, O MESMO DINO:
Os restos fósseis do Baurutitan sempre foram bem restritos às porções da cauda, mas escavações realizadas na BR-262, que atravessa o município de Uberaba, revelaram mais fósseis de outro Baurutitan, mostrando que partes do que se considerava o Trigonossauro não eram dele e sim de um Baurutitan.
Acontece o seguinte, ambos os dinossauros foram descritos no mesmo ano e na mesma revista científica, porém Baurutitan teve seu artigo apresentado páginas antes do Trigonossauro, de modo que o nome Baurutitan prevaleceu. Os outros fósseis que não pertenciam a ele foram estudados e estabelecidos a uma nova espécie de saurópode, batizado de Caieiria.
Por anos, ele fora conhecido como o Titanossauro de Peirópolis, como exemplo que grandes dinossauros pescoçudos também haviam vivido no Brasil. Sua importância é tamanha que fósseis de diferentes titanossauros sempre foram comparados aos espécimes brasileiros, para se tentar estabelecer uma relação familiar, algo que só nos últimos anos foi mais claramente estabelecido.
Fig. 4: Arte da revista Dinossauros! Edição 28, pág. 653 (adaptado).
OVOS DE DINOSSAUROS:
A região de Uberaba atrai atenção de pesquisadores sobre animais pré-históricos desde 1945, sendo este o ano que Ivor Price, ao observar uma partida de bocha, notou que a bola usada era, na realidade, um ovo de dinossauro fossilizado. Era costume de as pessoas pegarem formas de barro para usarem como bola e, nesse caso, a melhor delas era um antigo ovo que, de tanto usado no esporte, perdeu partes do seu formato original.
Mesmo assim, foi possível realizar uma comparação com outros materiais que confirmaram o fato. Outros ovos já foram localizados em Uberaba, de diferentes tamanhos e espécies, porém isolados, sem a constatação de um ninho. Isso viria a mudar com o anúncio, em 2022, de uma ninhada de titanossauros descoberto.
Fig. 5: Alguns ovos de titanossauros encontrados, retirado de Fiorelli er. Al., 2022.
NINHOS DE TITANOSSAUROS:
Escavações ocorridas em Ponte Alta, zona rural de Uberaba e a 15 quilômetros do distrito de Peirópolis, revelaram 20 ovos de titanossauros. Esses ovos estavam próximos, indicando a presença de um ninho. De fato, os ovos foram encontrados em diferentes camadas, indicando que o animal depositou os ovos, eles não eclodiram, foram fossilizados e, milhares de anos depois, outros ovos também foram depositados por cima e o mesmo aconteceu.
Aquele local era usado por uma ou várias espécies de saurópodes ao longo de séculos, sendo que os dinossauros cavavam o solo, depositavam os ovos e, com as patas traseiras, os cobriam, para que o calor do chão incubasse seus filhotes. Este comportamento se parece muito com os de tartarugas, que voltam ao seu local de nascimento para depositar suas crias. É provável que os adultos ficassem próximo até o nascimento da prole, pois seus filhotes nasciam totalmente desprotegidos.
Embora não se saiba quais eram os hábitos de criação dos filhotes, este costume de enterrar os ovos numa ninhada grupal também é visto em outros dinossauros pescoçudos como o Saltassauro da Patagônia Argentina, conforme descobertas de ninhos da espécie. No caso do Brasil, de acordo com a idade, tais ovos poderiam pertencer ao Uberabatitan, Caieiria ou o próprio Baurutitan. Seja como for, existe uma grande possibilidade daquela região ser usada por dinossauros nas épocas propicias para o desenvolvimento seguro de suas crias que, quando adultas, se tornavam os maiores animais da Terra.
Fig. 6: Arte de Julia D´Oliveira, divulgação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Alexander Wilhelm Armin Kellner, Diogenes de Almeida Campos, Marcelo N.F. Trotta (2005). Description of a Titanosaurid Caudal Series from The Bauru Group, Late Cretaceous of Brazil. Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 63: 529–564.
Junior, J. C. S., Martinelli, A. G., Marinho, T. S., da Silva, J. I., & Langer, M. C. (2022). New specimens of Baurutitan britoi and a taxonomic reassessment of the titanosaur dinosaur fauna (Sauropoda) from the Serra da Galga Formation (Late Cretaceous) of Brazil. PeerJ, 10, e14333.
Fiorelli, L. E., et. al. (2022). First titanosaur dinosaur nesting site from the Late Cretaceous of Brazil. Scientific Reports, 12(1), 5091.