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Cearadactylus atrox

O Cearadactylus foi um pterossauro que habitou o Brasil durante o início do Período Cretáceo. Com pouco mais de 5 metros de envergadura de assa, esse réptil alado se alimentava de peixes assim como as aves marinhas atuais. 

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

ORDEM: PTEROSAURIA

SUBORDEM: PTERODACTYLOIDEA

CLADO: ORNITHOCHEIRODEA

CLADO: PTERANODONTIA

CLADO: PTERANODONTOIDEA

FAMÍLIA: INDETERMINADA

GÊNERO: CEARADACTYLUS

ESPÉCIE: CEARADACTYLUS ATROX

Fig. 1: Desenho (adaptado) de Sergey Krasovskiy, retirado de https://fineartamerica.com/featured/cearadactylus-atrox-a-large-pterosaur-sergey-krasovskiy.html (26/12/2017 às 10:00).

DESCOBERTA:

    A descrição do Cearadáctilo se deu com base em um crânio quase completo junto ao maxilar inferior, descoberto na Chapada do Araripe localizada no estado do Ceará. Apresentado ao meio acadêmico por meio de um resumo no 8º Congresso Brasileiro de Paleontologia em 1983 e oficialmente descrido num artigo científico publicado em 1985.

   Os autores desses trabalhos e primeiros estudiosos do Cearadáctilo foram Giuseppe Leonardi e Guido Borgomanero. Giuseppe Leonardi é um padre de origem italiana, veio ao Brasil no ano de 1974 e ficou até 1989. Nesse período, ele se interessou pela paleontologia e fez pesquisas importantes na área, como o estudo de pegadas fósseis deixadas no interior de São Paulo numa época que a região era um imenso deserto. Mesmo quando deixou o país e, até hoje, continua contribuindo com trabalhos junto a pesquisadores brasileiros.

    Guido Borgomanero também era italiano, veio ao Brasil pela primeira vez na década de 40 e, anos mais tarde, trabalhou como diplomata italiano. Desde os 6 anos se interessava por minerais, gemas e mais tarde por fósseis. Com o tempo passou a colecioná-los ao ponto de possuir uma extensa coleção que chamava atenção de diversos pesquisadores e que o permitiu criar seu museu particular. Entre esses bens estava a da placa que continha os restos de um pterossauro: o Cearadáctilo.

    Após estudarem e publicarem o artigo do Cearadactylus, a placa que continha o fóssil do pterossauro foi mantida no acervo do museu de Guido em Curitiba. Após falecimento dele no ano de 2005, os restos do Cearadactylus foram doados por Ragnhild Borgomanero, viúva de Guido, ao Museu Nacional no Rio de Janeiro, local no qual se encontra atualmente.

 

 

 

ETIMOLOGIA:

 

     O nome Cearadactylus é a junção da palavra Ceará, estado brasileiro no qual encontraram o primeiro espécime, com dactylus, derivado da palavra grega Daktylos que significa dedo. A palavra atrox, que dá nome a espécie, significa “assustador”. Ou seja, seu nome denota o sentido de “Dedo Assustador”. Isto se deve ao longo comprimento do ultimo dedo das mãos dos pterossauros que sustenta suas assas.

Fig. 2: Desenho de PaleoPeter, retirado de https://paleopeter.deviantart.com/gallery/ (26/12/2017 às 10:15).

O PTEROSSAURO:

 

   O Cearadactylus era um réptil alado de grande porte, tinha uma envergadura de assas em torno de 5,5 metros de comprimento, uma cauda curta e um bico longo com dentes na ponta. Como a maioria dos pterossauros, ele deve ter possuído uma pequena pelugem pelo corpo e grande habilidade nos momentos de voo.

   Ele teria habitado o Brasil durante o Período Cretáceo, nas eras Albiana e Aptiana, entre 125 e 100 milhões de anos atrás. Naquele tempo a paisagem era bem diferente, pois por um tempo houve uma invasão do mar continente adentro e, em alguns momentos, a região era um imenso lago com ligação com o primitivo Oceano Atlântico, que havia surgido com a separação da América do Sul e África.

   Havia um imenso ecossistema na região, com diferentes espécies de peixes, insetos, plantas, crocodilomorfos, dinossauros e pterossauros. O Cearadáctilo era um piscívoro, se alimentando de peixes que pegava ao mergulhar seu bico na água e prendendo com seus dentes. Pode ser ate que entrasse totalmente na água, algo que muitas aves marinhas fazem atualmente. Uma vez em sua boca o peixe não tinha como fugir.

   Seu grande porte não deveria ser um problema, pois a quantidade de peixes permitia que ele convivesse com outros pterossauros, partilhando do mesmo nicho ecológico, sem a necessidade de briga por território. Havia espaço e alimento em abundância naqueles tempos pré-históricos.

            

Fig. 3: Desenho de Smokeybjb, retirado de https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cearadactylus.jpg (05/11/2017  às  15:20).

A PLACA FÓSSIL:

 

   É bem provável que placa que continha os restos do Cearadactylus tenha origem no comércio irregular de fósseis. Neste sentido, supõe-se que ela tenha sido encontrada na Formação Romualdo e vendida. Mas no meio do processo de coleta e venda, ela fora adulterada para parecer mais atraente ao comprador.

   Esta é uma atitude na qual o fóssil é refeito, acrescentando massa para unir e destacar o osso. Desse modo, o comprador fica ainda mais interessado e acaba adquirindo o espécime. Isto é bom para quem vende e péssimo para quem estuda. Após o Cearadáctilo ser descrito pela primeira vez, muitos paleontólogos analisaram as imagens e dados de descrição do pterossauro apenas por fotografia, tentando estabelecer outros apontamentos como a classificação cladística. Alguns argumentavam que seria preciso uma preparação mais detalhada da placa para que mais informação pudesse ser descoberta. Isto só se tornou possível após a doação da placa ao Museu Nacional.

   No ano de 2009, Bruno Cavalcanti com o apoio de colegas paleontólogos começaram a preparar o material (ou seja, retirá-lo da placa) e estuda-lo com mais precisão. Tão logo iniciou o estudo e constataram alterações muito relevantes: os dentes foram destacados e aumentados de modo a parecerem maiores do que de fato eram e a ponta do bico fora colada ao contrário.

   Tal fato atrapalhou o estudo de muitos paleontólogos que ao visualizarem a imagem apenas, não podiam supor o erro. Sendo assim, já classificaram o Cearadactylus como uma espécie relacionada a espécies chinesas e também a um grupo novo. Hoje, contudo, se sabe que ele era parente próximo dos pterossauros como Anhanguera, embora não se tenha certeza de sua família. Até mesmo suas representações artísticas estavam equivocadas ao apresentarem ele com o bico superior no formato de um semicírculo.

 

 

Fig. 4: Imagem do fóssil antes e após, respectivamente, sua preparação no laboratório.  (ALBUQUERQUE, 2010).

CEARADACTYLUS LIGABUEI:

 

   Em 1983 na Chapada do Araripe no Ceará ocorreu uma expedição italiana chamada Leonardi-Lingabue. Entre os fósseis coletados estão partes de um crânio de pterossauro que, mais tarde foram levados à Itália e relacionados a uma possível nova espécie de Cearadactylus. O material foi estudado pelo paleontólogo italiano Fabio Marco Dalla Vecchia, que em artigo publicado em 1993, batizou a espécie de Cearadactylus ligabuei em homenagem ao Dr. Giancarlo Ligabue, presidente na época do “Centro de Estudo e Pesquisa Ligabue”, em Veneza. 

  Contudo, muitos cientistas questionam esta espécie como válida e a desconsideram. Isto se deve ao fato do material parecer a junção de três partes separadas de pterossauros diferentes. Mais uma vez, é provável que o material tenha sido comprado por um coletor de fósseis que deve ter unido os ossos fossilizados para parecerem um só. Sem mais estudos aprofundados e, mesmo com eles, fica claro que esta espécie de Cearadáctilo nunca existiu. Por fim, embora já tenha sido requisitado pelo governo brasileiro, este material ainda não foi devolvido ao Brasil.

 

Fig. 5: Imagem do fóssil do suposto Cearadactylus ligabuei, (DALLA VECCHIA, 1993).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Leonardi, G. & Borgomanero, G. (1985). "Cearadactylus atrox nov. gen., nov. sp.: novo Pterosauria (Pterodactyloidea) da Chapada do Araripe, Ceara, Brasil." Resumos dos communicaçoes VIII Congresso bras. de Paleontologia e Estratigrafia, 27: 75–80.

 

Bruno C. Vila Nova , Juliana M. Sayão, Virgínio H. M. L. Neumann & Alexander W. A. Kellner (2014) Redescription of Cearadactylus atrox (Pterosauria, Pterodactyloidea) from the Early Cretaceous Romualdo Formation (Santana Group) of the Araripe Basin, Brazil, Journal of Vertebrate Paleontology, 34:1, 126-134.

 

Albuquerque, Bruno Cavalcanti Vila Nova de. Preparação, re-descrição e posicionamento filogenético de Cearadactylus atrox Leonardi & Borgomanero (Archosauria, Pterosauria). 2010. Dissertação (Mestrado em Geociências) - Universidade Federal de Pernambuco.

 

CAMPOS, H. B., HEADDEN, J. A., & FREY, E. New material of the enigmatic ornitltocheiroid Cearadactylus atrox from the Santana Formation. Short Communications / International Symposium on PterosaursRio Ptero 2013, p. 36-39

 

Dalla Vecchia, F. M. (1993), "Cearadactylus? ligabuei, nov. sp., a new Early Cretaceous (Aptian) pterosaur from Chapada do Araripe (Northeastern Brazil)", Bolletini della Societa Paleontologica Italiano, 32: 401-409

 

http://www.oxereta.com/noticia-1511146852-geopark-araripe-1000-fosseis-a-espera-de-repatriacao

 

http://blogs.diariodonordeste.com.br/cidade/fortaleza/mpf-quer-repatriar-fosseis-oriundos-do-ceara-contrabandeados-para-a-europa-ha-30-anos/

 

http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2014/10/1534232-padre-paleontologo-conta-como-concilia-religao-e-estudo-de-pegadas.shtml

 

http://paranaportal.uol.com.br/blogs-memoria-paranaense/os-fosseis-e-pedras-antigas-de-guido-borgomanero/

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