DINOSSAUROS & AFINS
Tapuiasaurus macedoi
O Tapuiassauro foi um tipo primitivo de titanossauro que viveu no Brasil a cerca de 120 milhões de anos, no período Cretáceo, onde hoje é o estado de Minas Gerais. A descoberta de seu fóssil trouxe algo inédito até então: o crânio completo de um titanossauro, achado raro e muito importante para o estudo deste grupo.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
SUPERORDEM: DINOSAURIA
ORDEM: SAURISCHIA
SUBORDEM: SAUROPODOMORPHA
INFRAORDEM: SAUROPODA
CLADO: TITANOSAURIA
FAMÍLIA: NEMEGTOSAURIDAE
GÊNERO: TAPUIASAURUS
ESPÉCIE: TAPUIASAURUS MACEDOI
Fig. 1: Ilustração de Felipe Alves Elias, retirado de http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/livro-infantil-revela-segredos-dos-dinossauros-brasileiros (acesso 10/07/2017, às 21:05).
DESCOBERTA
Os fósseis deste animal foram encontrados próximos à cidade de Coração de Jesus, na região norte de Minas Gerais, na chamada Formação Quiricó da Bacia São Franciscana. A idade deste depósito esta datada entre 128 e 95 milhões de anos atrás, na era Aptiana do Período Cretáceo Inferior.
Os primeiros achados ocorreram no ano de 2005, quando a população local percebeu a presença de “ossos estranhos” na região, sendo que muitos diziam pertencer a bois ou de outros animais. Um dos moradores da região, José Adão Pereira de Souza (conhecido como Zezinho), recolheu um desses ossos e estranhou o fato dele ser parecido com uma rocha e pesado. Em casa ele guardou o objeto, sem dar muita importância, até que um oficial de justiça foi a sua casa e viu o fóssil. O oficial então contatou Ubirajara Alves Macedo, o Bira, para que averiguasse do que se tratava aquele osso.
Bira entrou em contato com várias universidades, para que fossem à cidade e analisassem o achado. Ninguém compareceu, mas houve uma reportagem local a respeito do caso, contando com a presença de um espeleólogo (estudioso de cavernas) que foi ao local da descoberta, encontrando lá, ao cavar, uma costela encravada nas rochas. Ele concluiu então que os restos pertenciam a uma preguiça gigante.
No final do ano 2005 o biólogo local, Márcio Vieira Nobre, ficou sabendo da história e procurou Bira para poder examinar o fóssil. Ele passou a contatar também várias universidades, porém ninguém se prontificou a vir. Márcio então, através da rede social Orkut, entrou em contato com um pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) relatando a presença de restos fossilizados de animais na região.
A partir daí foram feitas algumas expedições na região, constando não só que os fósseis pertenciam a um dinossauro como também, em 2007, foi encontrado o crânio bem preservado do Tapuiassauro. Após anos de estudos, o artigo científico descrevendo o animal como uma nova espécie foi publicado em 2011.
ETIMOLOGIA
O nome Tapuiasaurus vem da junção das palavras “tapuia” e “saurus”. O termo tapuia tem vários significados, neste caso o termo faz referência à designação que os povos litorâneos davam para todas as populações que viviam no interior do país, enquanto que “saurus” significa lagarto em grego. Já “macedoi” é uma homenagem a Ubirajara Alves Macedo, que auxiliou na descoberta do dinossauro.
Fig. 2: Posição dos fósseis quando descoberto, adaptado de http://commons.wikimedia.org/wiki/File: Tapuiasaurus_plan_view.png#mediaviewer/File:Tapuiasaurus_plan_view.png (acesso 18/07/2017 às 08:00).
O DINOSSAURO
O Tapuiassauro era um dinossauro saurópode com 13 metros de comprimento e 4 metros de altura, quadrúpede e herbívoro. Provavelmente vivia em bandos, para se proteger de predadores, enquanto pastava pelas diversas florestas da região. Assim como a maioria dos titanossauros, o Tapuiassauro possuía um pescoço longo para poder se alimentar nas copas das árvores e um rabo comprido, utilizado para o equilíbrio e defesa do animal, além de uma proteção nas costas.
O Tapuiassauro pode ser considerado um dos primeiros titanossauros ditos como “avançados”, sendo que a aparência e características dos titanossauros do final do Cretáceo são muito semelhantes ao do Tapuiassauro que, aliás, provou a existência de tal grupo, pelo menos, 30 milhões de anos antes do esperado.
Fig. 3: Reconstrução do Tapuiasaurus. Retirado de http://fc02.deviantart.net/fs70/f/2011/ 262/c/2/tapuiasaurus_by_olorotitan-d4abau9.jpg (acesso em 18/07/17 ás 09:50).
CABEÇA DO DINOSSAURO
A descoberta do crânio do Tapuiassauro foi um marco para a paleontologia brasileira, visto que é muito difícil tal achado e, no caso dos titanossauros, só eram conhecidos na época dois outros crânios: do Rapetosaurus e Nemegtosaurus, de Madagascar e da Mongólia, respectivamente. A cabeça do animal media apenas 50 centímetros, tamanho pequeno em comparação com seu pescoço de 4 metros, e o próprio tamanho do dinossauro.
Ele possuía um crânio alongado, com as narinas posicionadas na parte superior entre os olhos, que ajudavam o dinossauro a respirar quando se alimentava com o pescoço nas árvores, além de dentes em forma de lápis que indicavam o hábito de arrastar dos galhos as folhas das árvores, não mastigando o alimento e engolindo direto.
O fato do crânio ser alongado mostra que os titanossauros adquiriam uma aparente semelhança com os crânios dos saurópodes diplodocídeos do Período Jurássico, como o Apatossauro e o Diplodocus. Isto parece indicar que o surgimento dos titanossauros tenha afetado tal grupo, devido à competição por alimentos, levando à sua extinção no Cretáceo.
Fig. 4: Crânio do Tapuiasaurus. Retirado de http://2.bp.blogspot.com/-rXGxViyk534/U770wEOebHI/AAAAAAAAHaE/ZnmshrSv4ew/s1600/tapuiassauro_Tiago_Queiroz_AE_26072010_300.jpg (acesso dia 18/07/17 às 10:46).
CURIOSIDADES
-
O nome Tapuiasaurus macedoi já havia sido utilizado para se referir ao dinossauro antes do trabalho científico sobre ele ser apresentado oficialmente, o que é contra ao costumeiro no meio acadêmico. A situação poderia ter sido um problema se o artigo sobre a descoberta fosse publicado em Periódicos mais tradicionais, como a Science ou a Nature, que poderiam ter recusado o trabalho.
-
Uma equipe de televisão fazia uma matéria sobre a exposição do Tapuiassauro no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, quando o repórter perguntou a um menino: “E esse dinossauro tão grande, o que ‘que’ você achou?”. A resposta do menino se tornou um viral na internet por um bom tempo: “Que cachorro o que?! Eu não sou cachorro não!”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Hussam Zaher, Diego Pol, Alberto B. Carvalho, Paulo M. Nascimento, Claudio Riccomini, Peter Larson, Rubén Juarez-Valieri, Ricardo Pires-Domingues, Nelson Jorge da Silva Jr., Diógenes de Almeida Campos (2011). "A Complete Skull of an Early Cretaceous Sauropod and the Evolution of Advanced Titanosaurians". PLoS ONE 6 (2): e16663.
http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,um-dinossauro-no-coracao-de-jesus,609332
http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental-arquivo/o-novo-dino-brasileiro