DINOSSAUROS & AFINS
Tropeognathus mesembrinus
O Tropeognathus era um antigo pterossauro que viveu no Brasil a milhões de anos atrás. Este réptil alado está entre os maiores do tipo que já existiram, com uma imensa envergadura de assas, que o permitiam voar sobre os mares antigos atrás de alimento, principalmente peixes que capturava com seu bico longo com dentes pontiagudos.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
ORDEM: PTEROSAURIA
SUBORDEM: PTERODACTYLOIDEA
CLADO: ORNITHOCHEIRODEA
CLADO: PTERANODONTIA
CLADO: PTERANODONTOIDEA
FAMÍLIA: ANHANGUERIDAE
GÊNERO: TROPEOGNATHUS
ESPÉCIE: TROPEOGNATHUS MESEMBRINUS
Fig. 1: Desenho de Sergey Krasovskiy, retirado de https://fineartamerica.com/featured/tropeognathus-mesembrinus-a-large-sergey-krasovskiy.html?product=greeting-card (23/03/2019 às 13:00 h).
DESCOBERTA:
A descrição do Tropeognathus ocorreu no ano de 1987, em artigo publicado num periódico científico do estado da Baviera, Alemanha, sob autoria do pesquisador alemão Peter Wellnhofer, mundialmente conhecido por estudos de pterossauros e outros fósseis. Neste periódico ele descreve o Tropeognathus mesembrinus juntamente com fósseis do que ele considerou como uma nova espécie do gênero, batizada de Tropeognathus robustus. Porém, atualmente só se considera valida a espécie T. mesembrinus.
O fóssil utilizado para a descrição do pterossauro consistia em um crânio e uma mandíbula completos. O material estava no acervo da Coleção de Paleontologia e Geologia do Estado da Baviera, em Munique, Alemanha. Sua origem era o Brasil, especificamente a Chapada do Araripe, porém fora adquirida de forma ilegal, através do tráfico de fósseis, provavelmente no início da década de 1980 e com apoio do Museu. Inclusive isto impede uma certeza da região de origem do material, sendo estimado como sendo a Formação Santana.
Além deste material fóssil, outros elementos relacionados à espécie foram identificados e descritos em publicações dos anos 2002 e 2013, sendo esta última com informações de um indivíduo de enormes proporções, considerado o maior pterossauro do Continente da Gondwana já descrito.
ETIMOLOGIA:
O gênero do pterossauro foi batizado de Tropeognathus, sendo junção de duas palavras gregas, trópis e gnáthos, significando quilha e mandíbula respectivamente. O nome seria “Mandíbula em forma de quilha”, devido à forma que possuía seu bico. O designo referente à espécie, mesembrinus, é uma latinização da palavra grega mesémbrinos, que significa Sul, já que o pterossauro em questão era originário do Hemisfério Sul do planeta.
Fig. 2: Fóssil do holótipo do Tropeognathus (provável fóssil) retirado de https://pterodata.blogspot.com/2009/08/resolving-criorhynchus.html (23/03/2019 às 14:15).
O PTEROSSAURO:
O Tropeognathus viveu no Brasil durante o Período Cretáceo, entre as eras geológicas do Aptiano e Albiano, entre 125 a 100,5 milhões de anos atrás, na região da Chapada do Araripe, Nordeste do Brasil. Naquela época sabe-se que existia no que hoje são os estados do Ceará e Pernambuco uma espécie de Mar raso, com ligação ao primitivo Oceano Atlântico. Posteriormente as rochas locais se tornaram o que geólogos classificam como Formação Romualdo, local de diferentes achados, desde dinossauros, peixes, insetos, plantas e muitos pterossauros bem preservados.
Como réptil voador, o Tropeognathus passava boa parte da vida sobrevoando as paisagens pré-históricas. Da cabeça até o bico media 0,63 metros, com uma envergadura de assas estimada em 7 metros e com altura de aproximadamente um metro. Outro individuo de proporções bem maiores também já foi descoberto e estudado. Seu bico possuía na ponta protuberâncias semicirculares, sendo as superiores maiores que as inferiores. Seus dentes eram pequenos, pontiagudos e espaçados na boca, indicando que capturava as presas e não mais soltava. Por viver próximo a água os paleontólogos creem que alimentava basicamente de peixes, agindo como fazem hoje os albatrozes e outras aves marinhas de grande porte.
Além do bico que destacava, o Tropeognathus tinha uma pequena elevação na parte superior da cabeça, uma crista bem pequena. Em vida pode ter servido para diferentes funções, como identificação de indivíduos ou atração no acasalamento. O mesmo se aplica às protuberâncias do bico: uma das hipóteses é a utilização das mesmas para o controle da temperatura, pois a região era muito irrigada por vasos sanguíneos, comprovado por estudos minuciosos feito nos fósseis do bico e da crista.
Outro ponto interessante é a semelhança que o Tropeognathus tem com as diversas espécies do pterossauro Anhanguera, gênero também comum no Brasil. Durante algum tempo, especialistas acreditavam que o Tropeognathus era na realidade outra espécie de Anhanguera. Estudos posteriores, porém, comprovaram diferenças significativas entre eles, como o fato dos Anhangueras terem dentes mais numerosos e uma crista não tão desenvolvida. Tendo sido animais contemporâneos, atualmente muitos paleontólogos os classificam como pertencente à mesma família, a Anhangueridae.
Fig. 3: Comparação entre Tropeognathus (direita) e Anhangueras (esquerda) – Arte de Mark Witton (adaptado), retirado de http://markwitton-com.blogspot.com/2013/02/ornithocheirus-and-anhanguera-4-m.html (23/03/2019 às 15:00).
DESCOBERTA DE UM GIGANTE:
A semelhança com outro pterossauro, o Ornithocheirus, também confundiu alguns cientistas, sendo propostos por eles renomear o Tropeognathus como Ornithocheirus mesembrinus. Tal fato aconteceu devido à escassez de mais fósseis do gênero, sendo conhecido na época apenas por seu crânio com mandíbula completo. Isto mudou com a apresentação em artigo científico de um novo fóssil em 2002 e, principalmente, da identificação de um indivíduo de Tropeognathus gigantesco em um artigo científico publicado em 2013 e assinado por dez cientistas brasileiros, entre eles os renomados paleontólogos Alexander Kellner e Diógenes Campos.
Os fósseis vieram da Formação Romualdo, Chapada do Araripe, entre os estados do Ceará e Pernambuco, porém o local exato é desconhecido. Ele foi coletado e partido em diferentes pedaços por pessoas da região mesmo, que posteriormente doaram o material para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na qual ficaram guardados desde 1983 até serem estudados pelos cientistas, que concluíram possuir quase 70% de todos os ossos do réptil voador.
O tamanho estipulado para o Tropeognathus descoberto foi de envergadura de assas de 8,2 metros, com 2,5 metros do bico à cauda, altura de 1,6 metros e um focinho de quase um metro de comprimento. Diferença bem grande dos 7 metros de envergadura estipulado para outros Tropeognathus, fazendo deste pterossauro o 3º maior do mundo e o maior já descoberto para o antigo continente de Gondwana. É importante ressaltar a conclusão dos pesquisadores, visto que este animal pode ser um indivíduo adulto de Tropeognathus ou mesmo um novo táxon. Por esta razão no artigo ele fora nomeado Tropeognathus cf. T. mesembrinus, até que mais estudos possam confirmar totalmente o que foi estipulado.
Fig. 4: Arte de Maurílio Oliveira, divulgação Museu Nacional/UFRJ.
PTEROSSAUROS IMENSOS:
A descoberta do Tropeognathus gigante é muito importante, pois acreditava-se que os maiores pterossauros só surgiriam no final do Cretáceo, a 72 milhões de anos, representados pela família Azhdarchidae, com o Quetzalcoatlus seu membro mais famoso. Assim, pode-se afirmar que mesmo a 110 milhões de anos, os céus já eram rasgados pelas assas de grandes répteis voadores.
Não são só 40 milhões de anos que separam essas espécies. Cada uma tinha um estilo de vida e habitat diferenciado, como o Tropeognathus que vivia nas áreas costeiras, se alimentava de peixes e passava boa parte do tempo voando. Os pterossauros da família Azhdarchidae, por outro lado, preferiam viver em regiões mais interioranas dos continentes, se alimentavam de pequenos animais e, provavelmente, carcaças de grandes dinossauros, além de terem uma aparência incomum: possuíam um bico longo e fino, sem dentes, um pescoço muito comprido e com um tamanho equivalente às Girafas atuais. Especialistas especularam que estes répteis passavam mais tempo em terra do que voando, sendo mais preferível a eles planar.
Estes diferentes tamanhos de pterossauros são uma demonstração da adaptação que seu corpo sofreu para alcançarem o posto de primeiros vertebrados alados a existirem. Os ossos eram pneumáticos, ou seja, eram ocos e portanto a densidade do animal era baixa. O Tropeognathus gigante descoberto, por exemplo, devia pesar apenas 65 quilos, apesar do tamanho. Além disso, no interior de seus corpos havia sacos aéreos que se expandiam não apenas no tórax mas em membros anteriores, permitindo uma aerodinâmica melhor no voo e um crescimento maior para algumas espécies.
A evolução do grupo permitiu que os pterossauros se tornassem endotérmico, ou seja, produzissem seu próprio calor. Claro que as condições ambientais, como o clima quente, podem ter favorecido. Mas é fato que grandes pterossauros conseguiram evoluir, como o próprio Tropeognathus, expandindo ainda mais a presença deles em várias partes do mundo.
Fig. 5: Arte de Vitor Silva, adaptado, retirado de http://vitorsilvapaleoartista.blogspot.com/2014/12/irritator-tapuiasaurus-e-tropeognathus.html (24/03/19 às 17:00).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
WELLNHOFER, P. (1987). New crested pterosaurs from the Lower Cretaceous of Brazil. Mitteilungen der Bayerischen staatssammlung für Paläontologie und Historische geologie. 27: 175-186.
Kellner, A. W. A.; Campos, D. A.; Sayão, J. M.; Saraiva, A. N. A. F.; Rodrigues, T.; Oliveira, G.; Cruz, L. A.; Costa, F. R.; Silva, H. P.; Ferreira, J. S. (2013). "The largest flying reptile from Gondwana: A new specimen of Tropeognathus cf. T. Mesembrinus Wellnhofer, 1987 (Pterodactyloidea, Anhangueridae) and other large pterosaurs from the Romualdo Formation, Lower Cretaceous, Brazil". Anais da Academia Brasileira de Ciências. 85: 113-135.
http://www.faperj.br/?id=2408.2.9
http://cienciahoje.org.br/gigante-no-ceu-do-brasil/
http://cienciahoje.org.br/coluna/um-caminho-para-o-gigantismo/