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Mirischia asymmetrica

O Mirischia foi um pequeno dinossauro que habitou o nordeste brasileiro durante o período Cretáceo, cerca de 110 milhões de anos atrás. Era um dinossauro emplumado, bípede, pequeno e muito ágil, o que permitia se defender correndo de predadores maiores e também ajudava nos momentos que ele caçava.  

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: DINOSAURIA

ORDEM: SAURISCHIA

SUBORDEM: TEROPHODA

INFRAORDEM: COELUROSAURIA

FAMÍLIA: COMPSOGNATHIDAE

GÊNERO: MIRISCHIA

ESPÉCIE: MIRISCHIA ASYMMETRICA

Mirischia.jpg

 Fig. 1: retirado de https://www.deviantart.com/kana-hebi/art/Mirischia-and-Santanasaurus-540705303, arte de Gabriel Lugueto, adaptado (retirado dia 27/12/18 às 21:00 h).

DESCOBERTA:

   No ano 2000 os pesquisadores estrangeiros David Martill, Erwin Frey e mais dois colegas descreveram em artigo científico certo fóssil brasileiro contido em um nódulo calcário. Tal material estava no acervo do Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe (Staatliches Museum für Naturkunde Karlsruhe), na Alemanha, sendo proveniente de alguma localidade incerta próxima à cidade de Araripina, em Pernambuco.

   O fóssil foi parar no museu por meios ilícitos, através do comércio ilegal de fósseis, que muito prejudica o país de origem, no caso o Brasil, além de dificultar que paleontólogos consigam mais informações sobre determinada descoberta. A prospecção comercial de fósseis muitas vezes pode danificar ou mesmo eliminar restos fósseis. Essa prática se iniciou na década de 80 na Bacia do Araripe, no Nordeste brasileiro, com certa preferência para peixes fossilizados e, quando restos de outros animais eram encontrados, os mesmo eram descartados porque escavadores ilegais consideravam ser sem valor. Isto mudou com o tempo, de modo que alguns materiais foram preservados, mas indo parar em coleções particulares ou de museus estrangeiros, como o caso do Mirischia.

   Assim, os pesquisadores estabeleceram que a placa fóssil consistia em um nódulo do Membro Romualdo, da Formação Santana, com uma idade estimada entre 113 milhões de anos à 100,5 milhões de anos atrás, durante o Albiano, Período Cretáceo. Estava incompleto, porém muito bem preservado e ainda articulado, consistindo no fêmur, uma pelve quase completa, partes de uma tíbia, fíbula e gastrálias, além de raro material preservado do intestino e partes do saco aéreo do Mirischia.

   Com esse espécime bem preservado tridimensionalmente, David Martill, Erwin Frey com apoio do colega Darren Naish, em 2004, batizaram Mirischia como um novo réptil da família dos Compsognatídeos, pequenos terópodes emplumados que habitaram também a Europa e Ásia. 

ETIMOLOGIA:

   O dinossauro Mirischia foi batizado com a combinação da palavra em Latim Mir, que significa maravilhoso, e Ischia, palavra Grega que se refere a todo osso da Pélvis. Já o nome da espécie, asymmetrica, diz respeito ao ísquio esquerdo do réptil ser diferente do ísquio direito, apresentando uma assimetria.

Mirischia.png

 Fig. 2: Púbis e Ísquio em visão lateral esquerda, retirado do artigo original (Naish, Martill & Frey, 2004).

O DINOSSAURO:

  Como apenas restos incompletos de um único indivíduo jovem foram encontrados, o Mirischia é descrito também com bases em seus parentes pelo mundo. Provavelmente media 1,7 metros de comprimento e meio metro de altura, grande em comparação aos tipos da mesma família. Supõe-se que sua alimentação era carnívora, ou até mesmo onívora, sendo o predador de pequenos animais que habitavam a Chapada do Araripe milhões de anos atrás.

  Com certeza era um dinossauro bem ágil, como se observa em seu esqueleto leve e bem frágil. Isto podia ajudá-lo na hora de caçar pequenos vertebrados ou mesmo se protegendo de predadores maiores. Aliás, predadores é que não faltavam na região no que é hoje a Formação Santana: de dinossauros carnívoros já foram identificados o Santanaraptor, Irritator e Angaturama, fora outros não descritos ou incompletos. O que levou pesquisadores a concluir que o ecossistema local sustentava mais predadores do que herbívoros.

  Na época, a região era semiárida com uma lagoa de água salgada com ligação ao recém-nascido Oceano Atlântico. Acredita-se que o Mirischia encontrado vivia mais distante do lago, porém ao morrer seu corpo foi carregado pela água de chuvas até a lagoa, permitindo que seus frágeis ossos fossem preservados. Uma hipótese levantada por paleontólogos em 2014 é de que a família dos Compsognatídeos estava bem adaptada ao ambiente árido, com possibilidade de também ocuparem regiões de floresta, porque muitos animais do tipo foram encontrados em regiões áridas no passado.

  De fato esse grupo existiu desde o final do Jurássico até o início do Cretáceo e é bem possível que habitassem todo o planeta. Porém, devido à fragilidade de seus fósseis, apenas foram preservados em ambientes especiais, como depósitos Chineses, da Europa e do Brasil, conhecidos pelos paleontólogos como depósitos Lagerstätte. Nestes lugares ossos frágeis, tecidos e até penas são preservados de forma excepcional.

  Aliás, graças a descobertas na China, é possível supor que o Mirischia fosse um animal emplumado, como se observa no seu parente Sinosauropteryx. A penugem que cobria seu corpo era utilizada para preservar a temperatura do corpo do animal, além de ser usada para identificação ou mesmo camuflagem. Outro fato constatado era que Mirischia era mais próximo de seus parentes jurássicos europeus que os Compsognatídeos asiáticos do Cretáceo. Prova também que esses pequenos predadores se dispersaram quando os continentes ainda estavam parcialmente unidos.

Mirischia

Fig. 3: retirado de https://www.deviantart.com/alexanderlovegrove/art/Mirischia-asymmetrica-531978820 Arte de Alex Lovegrove (retirado dia 27/12/18 às 22:00 h).

DINOSSAUROS COM PENAS:

   Até alguns anos se supunham que alguns dinossauros tivessem penas, afinal sua afinidade com as aves estava ficando cada vez mais clara com os fósseis. O que não se podia imaginar é que, muito provavelmente, diversos grupos de dinossauros tinham penas com diferentes funções ou mesmo aparências únicas.

   Com prospecções realizadas em jazidas da China, foi possível identificar diversos grupos que possuem penas, desde pequenos herbívoros a carnívoros e, até mesmo, animais maiores. As penas não seriam exclusividade de dinossauros pequenos. Sua função também não estava voltada para o voo. Elas evoluíram independentemente para proteger a temperatura do corpo, para auxiliar no acasalamento, entre outras funções. Mais tarde é que foram adaptadas pelas aves para voar. Penas isoladas têm sido descobertas em jazidas fossilíferas pelo mundo, inclusive na Chapada do Araripe.

   Infelizmente, penas são frágeis e se deterioram fácil, encontra-se poucas associadas a algum dinossauro fóssil, como ocorre com o Mirischia, que mesmo bem preservado, não conseguiu manter nenhum rastro de penas. Contudo, analisando seus parentes que preservaram as penas consegue-se ter uma ideía de como deveriam ser os dinossauros. Alguns dinossauros chineses, e até de outros depósitos, estão tão bem preservados que é possível analisar o estilo e a provável cor que o réptil penoso tinha.   

Mirischia.png

Fig. 4: Imagem retirada de https://www.deviantart.com/freakyraptor/art/CHALLENGE-Mirischia-Couple-678638896, arte de Camilla Alli (retirado dia 27/12/18 às 21:00 h).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Naish, D., Martill D.M., and Frey, E., 2004, "Ecology, Systematics and Biogeographical Relationships of Dinosaurs, Including a New Theropod, from the Santana Formation (?Albian, Early Cretaceous) of Brazil", Historical Biology. 2004: 1-14.

 

Sales, Marcos & Cascon, Paulo & Schultz, Cesar. (2014). Note on the paleobiogeography of Compsognathidae (Dinosauria: Theropoda) and its paleoecological implications. Anais da Academia Brasileira de Ciências. 86. 127-34. 10.1590/0001-37652013100412.

 

http://cienciahoje.org.br/coluna/que-penas/

 

http://revistapesquisa.fapesp.br/2010/02/28/dino-em-cores/

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