DINOSSAUROS & AFINS
Anhanguera piscator
O Anhanguera foi um gênero de pterossauro que habitou o Brasil durante o período Cretáceo, sendo um réptil voador com hábitats costeiros. A espécie Anhanguera piscator está entre as maiores em envergadura de asas, além de possuir um dos mais completos materiais fósseis preservados.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
ORDEM: PTEROSAURIA
SUBORDEM: PTERODACTYLOIDEA
CLADO: ORNITHOCHEIRODEA
CLADO: PTERANODONTIA
CLADO: PTERANODONTOIDEA
FAMÍLIA: ANHANGUERIDAE
GÊNERO: ANHANGUERA
ESPÉCIE: ANHANGUERA PISCATOR
Fig. 1: Arte de Julius Csotonyl, retirado de https://dinosaurpictures.org/Anhanguera-pictures (29/08/2020 às 09:00).
DESCOBERTA:
As primeiras prospecções de fósseis de pterossauros no Brasil tiveram grande êxito na região da Chapada do Araripe, sendo a primeira espécie de Anhanguera batizada em 1985. Dezenas de outros restos incompletos desses répteis alados foram coletados e estudados no Brasil e no exterior, fornecendo a imagem de uma pré-história brasileira repleta de diferentes tipos de animais voadores.
O Anhanguera piscator foi descrito no ano 2000, pelos paleontólogos Alexander Kellner e Yukimitsu Tomida, sendo que o fóssil do pterossauro pertence ao Museu Nacional da Natureza e Ciência da cidade de Tóquio, no Japão. A análise indica a possibilidade do fóssil ter sido coletado nos arredores da cidade brasileira de Santana do Cariri, estado do Ceará. O translado do material fóssil até o Japão ocorreu por vias irregulares, no contexto do comércio ilegal de fósseis, conforme as leis brasileiras desde 1942.
O traficante em questão foi o italiano Flavio Bacchia, já investigado pela Polícia Federal, sendo que o mesmo disse jamais ter estado no Brasil e comprado o fóssil na década de 90 de um alemão já falecido. O museu japonês anunciou a presença do fóssil em 1992, sendo então feita uma parceria para estudo em conjunto do material, com cada país representado por um pesquisador, Kellner e Tomida, respectivamente. Na época, através de uma declaração à imprensa, o paleontólogo japonês Tomida disse desconsiderar a legislação brasileira quanto a ilegalidade da venda do fóssil, pois para ele se estão vendendo então está tudo legal. O estado do Ceará entrou com o pedido de repatriamento em 2002, porém o fóssil não retornou até os dias de hoje.
Enfim, a descoberta desta espécie de Anhanguera corroborou em demonstrar a variabilidade desses pterossauros durante o Cretáceo, a fauna dos diversos tipos de Anhangueras no Brasil e a possibilidade de estudar melhor esses animais, já que o Anhanguera piscator contém praticamente todos os fósseis preservados, ainda articulados e em excelente estado tridimensional de preservação. Isto possibilita uma melhor comparação e estudos por parte dos pesquisadores.
ETIMOLOGIA:
O nome Anhanguera foi dado à primeira espécie descrita em 1985, sendo a intenção dos autores relacionar o nome ao termo em tupi Anhanguera, traduzindo em português seria algo como espírito velho ou diabo velho. Não confundir com o Anhangá, que é um “elemental” da natureza, erroneamente interpretado como um tipo de demônio. A espécie recebeu o nome de piscator, em latim pescador, pois já está bem claro para comunidade científica que a dieta desses pterossauros era constituída em sua maioria por peixes e outros seres aquáticos.
Fig. 2: Arte de Pedro Vinicius, retirado de https://pedrovincius.artstation.com/ (29/08/20 às 15:00h).
O PTEROSSAURO:
O Anhanguera foi um pterossauro de grande porte, sendo um réptil alado com um bico longo, a extremidade em formato de semicírculo achatado, com dentes bem longos e cônicos que saem de sua boca. O quarto dedo da mão é completamente alongado para sustentar as asas, formadas por uma membrana resistente para permitir o voo e, para completar, seu corpo era recoberto por pequenas fibras semelhantes aos pelos.
A espécie piscator poderia chegar até 1 metro de comprimento e 6 metros de envergadura de asas. Esta incerteza se dá visto que o fóssil encontrado media até 5 metros de comprimento, porém se trata de restos de um jovem Anhanguera, ou seja, ele ainda iria crescer muito mais. Ao que tudo indica, os Anhangueras viviam na costa, se lançando ao mar ou sobrevoando-o atrás de peixes e outros frutos do mar. Nem todo pterossauro tinha dentes, o que não é o caso do Anhanguera, então pode-se inferir que os dentes longos ajudavam a capturar e prender peixes escorregadios.
Um fato importante é o formato de seu bico, pois como ele era novo e não se sabe o sexo, provavelmente o formato final dele poderia ser um pouco maior ou talvez mais côncavo. Mais espécimes precisam ser estudados para se chegar a um consenso.
Apesar do local de sua origem ser precisamente incerto, em algum lugar da Chapada do Araripe, na Formação Romualdo, sabe-se que ele viveu no Brasil entre 125 e 100 milhões de anos atrás, no Período Cretáceo, entre as eras Albinas e Aptianas. Na época o Oceano Atlântico ainda estava se formando e porções da África ainda se uniam à América do Sul. Enquanto no chão os dinossauros dominavam, no céu os pterossauros reinavam despreocupados. Os Anhangueras ganhavam tamanhos cada vez maiores, sua anatomia permitia que sacos aéreos se espalhassem por seu corpo e seus ossos eram pneumáticos, de modo que eram grandes, ao mesmo tempo que leves.
No solo ou boiando na água eles não ficavam desprotegidos, estudos constataram que eles tinham a capacidade de se lançar novamente no ar sem nenhuma dificuldade. Se algum predador aparecesse, muito provavelmente um dinossauro carnívoro, ele se lançaria ao céu, bateria as asas rapidamente e não seria alcançado.
Tudo isso, contudo, não os fazia escapar de doenças e outras enfermidade daqueles tempos. O fóssil do Anhanguera piscator continha traços de degeneração óssea e fraturas, indicando que o pterossauro pode ter desenvolvido alguma doenças nos ossos, prejudicando seu desempenho e, provavelmente, levando-o à morte. É possível que tenha morrido no mar e seu corpo foi rapidamente recoberto, de modo a permitir a preservação excepcional de seus ossos.
Fig. 3: Retirado de https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Coloborhynchus_piscator_jconway.jpg (29/08/2020 às 15:00 h).
ANHANGUERA FALSO:
No ano de 2013 aconteceu no Rio de Janeiro o Simpósio Internacional de Pterossauros, o Rio-Ptero, que contou com a presença de inúmeros estudiosos e representantes de universidades e outros centros de pesquisa, as quais se dedicam ao estudo de pterossauros no mundo todo. Neste evento pesquisadores liderados pelo paleontólogo Fabio Dalla Vecchia apresentaram um artigo na qual descreveram um fóssil falso de Anhanguera da espécie piscator, exposto no museu CosmoCaixa da cidade Barcelona, na Espanha.
Segundo descobriram Fabio e seus colegas, o fóssil do anhanguera exposto é formado pela junção de dois esqueletos não identificados e materiais plásticos que complementaram o espécime. Não é possível afirmar, aliás, se algum dos fósseis pertenceu a algum anhanguera.
Ao ser anunciado no evento, o assunto gerou exaltações: de um lado os brasileiros reafirmaram o fato recorrente de tráfico de fósseis ao exterior, por outro lado os pesquisadores estrangeiros demonstraram mais preocupações se seus fornecedores de fósseis estariam adulterando os restos de animais pré-históricos e o prejuízo científico e monetário do fato. Quanto ao museu espanhol, à época não demonstrou muito interesse em retirar a peça em exposição e nem de apresentar, por meio de qualquer aviso ao público, que se tratava de um anhanguera reconstituído.
Fig. 4: Fóssil falso, adaptado da reportagem original da Folha (2013).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Kellner, A. W. A. & Tomida, Y. (2000). "Description of a new species of Anhangueridae (Pterodactyloidea) with comments on the pterosaurfauna from the Santana Formation (Aptian–Albian), northeastern Brazil." Tokyo, National Science Museum (National Science Museum Monographs, 17).
Habib, M. B., & Cunningham, J. (2010). Capacity for water launch in Anhanguera and Quetzalcoatlus. Acta Geoscientica Sinica, 31, 24-25.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2801200102.htm
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/4/17/mais!/3.html
https://kosmosfarol.blogspot.com/2013/09/mais-uma-falsificacao-pre-historica-na.html?m=0
https://cienciahoje.org.br/coluna/um-caminho-para-o-gigantismo/