DINOSSAUROS & AFINS
Campinasuchus dinizi
O Campinasuchus foi um crocodiliano terrestre, predador voraz do cretáceo brasileiro, época que o país era habitado por diferentes tipos de dinossauros, num ecossistema árido e quente. Campinasuchus caçava qualquer animal, grande ou pequeno que entrasse em seu caminho, talvez estivesse até mesmo no topo da cadeia alimentar.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA
CLADO: CROCODYLIFORME
CLADO: MESOEUCROCODYLIA
CLADO: METASUCHIA
SUBORDEM: NOTOSUCHIA
CLADO: SEBECOSUCHIA
FAMÍLIA: BAURUSUCHIDAE
SUBFAMÍLIA: PISSARRACHAMPSINAE
GÊNERO: CAMPINASUCHUS
ESPÉCIE: CAMPINASUCHUS DINIZI
Fig. 1: Arte de Rodolfo Nogueira / Divulgação.
DESCOBERTA:
Em dezembro de 2009, na fazenda Três Antas, localizada na zona rural de Campina Verde, em Minas Gerais, o fazendeiro Amarildo Martins Queiroz observava o solo de seu terreno após sua criação de gado passar. Percebeu a presença de fósseis e, interessado, coletou alguns. Depois os levou até Uberaba, distando quase 300 quilômetros de sua cidade, até o Museu dos Dinossauros em Peirópolis. O responsável pelo museu na época, e também geólogo da Universidade Federal do Triangulo Mineiro, Luiz Carlos Ribeiro, o recebeu para tentar entender o que era aquela descoberta.
Amarildo havia recolhido uma parte do crânio de um crocodilomorfo ainda desconhecido. Ainda as vésperas das festas natalinas de 2009, o geólogo Luiz Carlos foi com uma equipe até a fazenda, em Campina Verde, para verificar melhor o local do achado. Perceberam a presença de diversos fósseis muito bem preservados e articulados, ou seja, os ossos dos animais ainda estavam unidos após milhões de anos. Amarildo colocou uma cerca em volta daquela área, visto que o gado estava passando em cima dos fósseis. Em maio de 2010 uma equipe de campo da Universidade Federal do Triangulo Mineiro, com a presença do renomado paleontólogo Ismar de Souza Carvalho, iniciou prospecções mais detalhadas e identificou diversos indivíduos de uma mesma espécie de crocodiliano terrestre.
O excelente estado de preservação dos fósseis rendeu à fazenda Três Antas o reconhecimento de “Lagerstatte”, termo alemão para localidades com ótimo estado de conservação de esqueletos antigos. No Brasil, a Chapada do Araripe também recebe esse reconhecimento, já tendo sido descoberto até mesmo tecidos moles de animais antigos preservados.
Em 2011, após algum tempo de pesquisa, o Campinasuchus foi descrito por uma equipe em artigo científico e apresentado ao mundo. Ao longo dos anos, outros fósseis mais completos do Campinasuchus foram encontrados permitindo uma melhor percepção de sua aparência, sendo que tais achados não se limitavam a Minas Gerais, pois até mesmo em São Paulo, na cidade de General Salgado, restos deste antigo réptil foram desenterrados.
ETIMOLOGIA:
O nome do Campinasuchus vem da junção da palavra Campinas, em referência à cidade mineira de Campinas Verde, local da sua descoberta, e a palavra grega suchos usada para designar crocodilos. O nome da espécie, dinizi, é uma homenagem a Izonel Queiroz Diniz Neto, filho falecido ainda criança de Amarildo, e, também, às famílias Martins Queiroz e Diniz, proprietárias da fazenda Três Antas, na qual se descobriram os primeiros fósseis do Campinasuchus.
Fig. 2: Fóssil de um dos Campinasuchus descoberto na fazenda Três Antas (imagem 1). Observe o dente elevado na imagem 2, uma característica da espécie. Imagem retirada de Carvalho et. al, 2011.
O ANIMAL:
O Campinasuchus media 1,8 metros de comprimento, da cabeça até a cauda, com quase 1 metro de altura. Seu rosto era um pouco curto, com dentes serrilhados que saiam de sua boca, sendo que o quarto dente sai da mandíbula e atravessava para fora da boca. Tinha narinas bem desenvolvidas que permitiam farejar suas presas sem dificuldade, algo diferente de seus parentes aquáticos. Aliás, o Campinasuchus estava completamente adaptado à vida terrestre, com suas patas eretas, permitindo caminhar com mais eficiência e correr, por um período curto, atrás de uma presa ou mesmo fugindo, sem tocar sua cauda no chão.
Assim como outros crocodilomorfos brasileiros do cretáceo, supõe-se que também construía tocas sob a terra, usadas não só para repouso, mas também para se proteger de calor intenso. Enquanto predador, seu foco devia ser caçar os esfagessauros, crocodilianos terrestres herbívoros, como o Caipirasuchus, ou os jovens dinossauros saurópodes, que deviam ser mais vulneráveis. Ainda é desconhecido se o Campinasuchus andava em grupos, embora diferentes indivíduos tenham sido descobertos juntos. Também já foram identificados ovos em associação ao Campinasuchus, embora estivessem fragmentados, sem vestígio aparente de ninhos.
Seus fósseis foram encontrados na Bacia Bauru, dentro da formação Adamantina, indicando que ele viveu entre 93,5 e 83,5 milhões de anos atrás, ou durante a idade Turoniana ou Santoniana, durante o período Cretáceo. Naquela época, a região que vivia o Campinasuchus era extremamente árida, com rios e lagos que sustentavam uma fauna exuberante de dinossauros e outros animais. O fato de tantos fósseis de Campinasuchus terem sido descobertos juntos na fazenda Três Antas, indica que eles morreram numa época de seca e calor intenso. Para sobreviverem eles se enterraram na lama, contudo as temperaturas de mais de 55 graus da época acabaram por condenar estes animais que, na lama, acabaram muito bem preservados.
PREDADORES DOMINANTES:
O Campinasuchus era um pissarrachampsídeo do grupo Baurusuchidae, sendo dividido entre Baurusuquídeos e Pissarrachampsídeos, com diferenças significativas, como os focinhos mais longos dos Baurusuchus. Os primeiros têm sido encontrados no território de São Paulo, e os segundos em Minas Gerais. Acreditava-se que a separação das famílias devia-se a alguma regionalidade, porém, com a descoberta de restos de Campinasuchus em São Paulo, na cidade de General Salgado, ficou evidente que estas diferentes famílias compartilhavam os territórios.
Estes animais eram adaptados ao ecossistema árido e seco do Brasil pré-histórico, ao ponto de se tornarem os predadores dominantes do território. Caçar animais naquele ambiente deveria requerer habilidades como rastrear, emboscar e avançar sobre animais muitas vezes maiores que os próprios, como os dinossauros saurópodes. Em épocas carentes de recursos os Campinasuchus e seus parentes se contentavam com restos de cadáveres daqueles que sucumbiram à estiagem. Mas, quando a chuva não chegava, por mais adaptados que fossem, os crocodilianos se juntavam aos que morreram.
Fig. 3: retirado de https://laignoranciadelconocimiento.blogspot.com/2011/03/campinasuchus.html
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CARVALHO, Ismar De Souza et. al. Campinasuchus dinizi gen. et sp. nov., a new Late Cretaceous baurusuchid (Crocodyliformes) from the Bauru Basin, Brazil. Zootaxa, v. 2871, n. 1, p. 19–42, 2011.
COTTS, Leonardo et. al. Postcranial skeleton of Campinasuchus dinizi (Crocodyliformes, Baurusuchidae) from the Upper Cretaceous of Brazil, with comments on the ontogeny and ecomorphology of the species. Cretaceous Research, v. 70, p. 163-188, 2017.
DARLIM, Gustavo et. al. A new Pissarrachampsinae specimen from the Bauru Basin, Brazil, adds data to the understanding of the Baurusuchidae (Mesoeucrocodylia, Notosuchia) distribution in the Late Cretaceous of South America. Cretaceous Research, v. 128, p. 104969, 2021.
MARINHO, T. S. et al. Ovo associado à Campinasuchus dinizi (Crocodyliformes, Baurusuchidae), do Cretáceo Superior (Grupo Bauru) de Campina Verde, Minas Gerais, Brasil. VII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, Recife, Pernambuco. Paleontologia em Destaque, Edição Especial, v. 135, 2012.
https://siteantigo.faperj.br/?id=1976.2.0
https://www.yumpu.com/pt/document/view/35484075/campinasuchus-dinizi-fapemig