DINOSSAUROS & AFINS
Montealtosuchus arrudacamposi
O Montealtosuchus foi um crocodiliano terrestre que viveu no Brasil durante o Período Cretáceo, coexistindo com os dinossauros. Sua família estava entre as mais adaptadas para os terrenos áridos daquele tempo, sendo um predador em destaque na cadeia alimentar mesozoica.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA
CLADO: CROCODYLIFORME
CLADO: MESOEUCROCODYLIA
CLADO: METASUCHIA
CLADO: NEOSUCHIA
SUBORDEM: NOTOSUCHIA
CLADO: SEBECIA
FAMÍLIA: PEIROSAURIDAE
SUBFAMÍLIA: PEIROSAURINAE
GÊNERO: MONTEALTOSUCHUS
ESPÉCIE: MONTEALTOSUCHUS ARRUDACAMPOSI
Fig. 1: arte de Deverson da Silva (Pepi).
DESCOBERTA:
O município de Monte Alto está localizado no estado de São Paulo, dentro da região metropolitana de Ribeirão Preto. Tal localidade tem sido destaque na paleontologia nacional desde 1985, quando os primeiros fósseis foram encontrados, levando à inauguração do Museu de Paleontologia de Monte Alto, em 1992. Uma série de prospecções coordenadas pelo museu passaram a ocorrer nas imediações da cidade e, em 2004, uma delas levaria à descoberta do Montealtosuchus, considerado um dos achados mais completos, visto que quase todos os fósseis de seu corpo foram recuperados, correspondendo a 80% do animal. De fato, também forram desenterrados mais cinco indivíduos atribuídos ao mesmo gênero, embora estivessem incompletos e fragmentados.
Com a devida preparação, o espécime do Montealtosuchus foi descrito e apresentado ao meio científico em artigo publicado em 2007, sob autoria de Sandra Aparecida Simionato Tavares (atual curadora do Museu de Monte Alto), Ismar de Souza e Felipe Mesquita. O Montealtosuchus teve bastante repercussão nas mídias da época, em especial jornais e revistas, recebendo destaques no museu, com uma réplica em tamanho real que está em exibição até hoje. O fóssil também passou por um exame de raios X numa clínica no Leblon, bairro da cidade do Rio de Janeiro, a qual permitiu a reconstrução do crânio em três dimensões num modelo virtual.
Outros estudos foram realizados com o espécime, principalmente devido ao excelente estado de conservação do réptil. Essas analises puderam determinar características que seriam abrangidas a parentes do Montealtosuchus, no caso os Peirosaurídeos. Tal grupo era encontrado em boa parte da América do Sul, que na época formava o continente de Gondwana, se fazendo presente não só nos sertões daquele tempo, como em biomas diferentes.
Fig. 2: Fóssil de Montealtosuchus, imagem adaptada.
ETIMOLOGIA:
O nome Montealtosuchus foi escolhido para homenagear a cidade paulista, unindo o epíteto da cidade com a terminação grega suchus, utilizada para designar, frequentemente, toda nova espécie de crocodiliano antigo, seja terrestre ou aquático. O nome da espécie, arrudacamposi, é uma homenagem ao professor Antônio de Celso Arruda Campos, importantíssimo para o desenvolvimento das pesquisas pré-históricas na cidade, sendo o antigo curador do museu e recebeu esta justa homenagem ainda em vida. Ele estava presente na descoberta dos fósseis do Montealtosuchus. Com seu falecimento em 2015, o museu passou a chamar Museu de Paleontologia de Monte Alto "Prof. Antônio Celso de Arruda Campos".
Fig. 3: Vista de cima de Montealtosuchus, arte de Deverson da Silva (Pepi).
O ANIMAL:
O Montealtosuchus era um crocodilomorfo terrestre, media entre 1,3 e 1,5 metros de comprimento e não mais que 1 metro de altura, com um focinho longo triangular, um pouco semelhante aos jacarés atuais. Ele, porém, não se arrastava pelo, mas mantinha uma postura mais ereta, com grande facilidade para caminhar e disparar em pequenas corridas, tanto para caçar quanto para fugir de outros predadores. Sua alimentação era carnívora, desde pequenos animais, como peixes, sapos, cágados, outros crocodilomorfos e até dinossauros, podendo ter hábitos necrófagos, aproveitando os cadáveres em seu caminho.
Viveu no Brasil entre 93 e 83 milhões de anos atrás, durante as idades do Turoniano e Santoniano, no Período Cretáceo, tendo sido encontrado na Formação Adamantina, no Bacia Bauru. Naquela época o clima era bem mais árido, com uma paisagem contendo montanhas e vulcões ativos, bioma semelhante as savanas, porém com chuvas torrenciais durante certas épocas do ano. Para sobreviver a esse ambiente, o Montealtosuchus contava com uma pele resistente e um escudo nas costas que permitia o refrigeramento do corpo, pois as placas não eram extremamente unidas, como ocorre hoje com jacarés. Caso isso não fosse o suficiente, ele poderia se abrigar em tocas ou procurar a lama para não ressecar.
Provavelmente tinha uma vida em grupo, visto que o primeiro fóssil foi encontrado junto com outros da mesma espécie. Eles devem ter morrido juntos quando a seca chegou e procuraram um lago seco com lama para se abrigar. Uma vez mortos, talvez porque a estiagem perdurou mais do que era costumeiro, seus corpos foram muito bem preservados.
Fig. 4: arte de Deverson da Silva (Pepi).
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA:
Em 2017, um estudo morfológico do Montealtosuchus foi apresentado, após o esqueleto fossilizado ter passado por uma tomografia computadorizada no Instituto de Radiologia, localizado Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Com uma imagem 3D foi possível afirmar mais categoricamente uma série de hipóteses já levantadas sobre o animal.
Um exemplo é o fato dele possuir uma postura ereta, porém não tanto quanto outra família daquela época, os baurussuquídeos, mas indicando uma vida terrestre, embora nada o impedisse de nadar quando necessário. Seus olhos estavam dispostos na lateral, o crânio era curto e alto, permitindo uma força considerável na mordida. A coana estava no céu da boca do réptil, intermediário em relação aos antigos crocodilianos, que as tinham na ponta do focinho, e os atuais, que a tem no fundo do palato. Essas características meio-termo talvez fossem a razão do sucesso não só do Montealtosuchus como de sua família durante o final do Cretáceo.
Atualmente os Peirosaurídeos são divididos em duas subfamílias, os Peirosaurinae que parecem ter tido hábitos mais terrestres, o caso do Montealtosuchus, e os Pepesuchinae, cujos representantes brasileiros Pepesuchus, Roxochampsa e Barreirosuchus são atribuídos uma vida mais aquática. Todos eles pertencem a um grande grupo chamado Sebecia, que estava tão bem aclimatado no Brasil daquele tempo que acabariam sobrevivendo à extinção dos dinossauros, no final do Cretáceo, e continuariam sendo predadores ativos na América do Sul ainda por milhões de anos.
Fig. 5: Imagem da Tomografia realizada no Montealtosuchus, retirado de Tavaraes et. al (2017).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Carvalho, I. S.; Vasconcellos, F. M.; Tavares, S. A. S. (2007). Montealtosuchus arrudacamposi, a new peirosaurid crocodile (Mesoeucrocodylia) from the Late Cretaceous Adamantina Formation of Brazil. Zootaxa 1607:35-46
Tavares, S. A. S., Branco, F. R., Carvalho, I. S., 2015. Osteoderms of Montealtosuchus arrudacamposi (Crocodyliformes, Peirosauridae) from the Turonian-Santonian (Upper Cretaceous) of Bauru Basin, Brazil. Cretaceous Research 56, 651e661.
Tavares, S. A. S., Branco, F. R., Carvalho, I. S., Maldanis, L. (2017). The morphofunctional design of Montealtosuchus arrudacamposi (Crocodyliformes, Upper Cretaceous) of the Bauru Basin, Brazil. Cretaceous Research, 79, 64-76.
Tavares, S. A. S. Montealtosuchus arrudacamposi, CROCODYLIFORMES, PEIROSAURIDAE DO CRETÁCEO SUPERIOR DA BACIA BAURU: Aspectos Morfofuncionais. 2016. 110 f. Tese (Doutorado em Ciências na área de Geologia e Recursos Naturais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
Queiroz, M. V. L. A new Peirosauridae (Crocodyliformes Notosuchia) from the Adamantina Formation (Bauru Group, Late Cretaceous), and a new phylogenetic analysis of notosuchians. 2022. 118 f. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal) - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, São José do Rio Preto, 2022.
http://siteantigo.faperj.br/?id=1157.2.5
http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/2008/01/31/ult4477u308.jhtm
https://cienciahoje.org.br/um-elo-na-evolucao-dos-crocodilos/
http://www.ikessauro.com/2008/03/o-crocodilo-de-monte-alto.html