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Armadillosuchus arrudai

Conhecido como o Jacaré-Tatu, o Armadillosuchus foi um dos répteis mais peculiares a perambular pela Terra durante a época do Dinossauros. Era um crocodilomorfo terrestre que viveu no Brasil durante o Período Cretáceo, possuía uma couraça nas costas lembrando os tatus, uma alimentação mais herbívora que carnívora e media em torno de dois metros de comprimento.  

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA

CLADO: CROCODYLIFORME

CLADO: MESOEUCROCODYLIA

SUBORDEM: NOTOSUCHIA

FAMÍLIA: SPHAGESAURIDAE

GÊNERO: ARMADILLOSUCHUS

ESPÉCIE: ARMADILLOSUCHUS ARRUDAI

Armadillosuchus 3.jpg

Fig. 1: Arte de Smokeybjb, retirado de https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Armadillosuchus.jpg (05/08/18 às 18:00 h).

DESCOBERTA:

 

   Encontrar restos fósseis ora está relacionado ao acaso, seja por pessoas leigas ou estudiosos, ora através de prospecções realizadas por instituições ou pesquisadores visando novidades para a ciência. Neste quesito pode-se afirmar que a descoberta do Armadillosuchus envolve partes das duas situações.

   No ano de 2005 um aluno encontrou e levou um fóssil para o João Tadeu Arruda, professor de ciências que rotineiramente atuava como paleontólogo amador na cidade de General Salgado, estado de São Paulo. Este mesmo aluno deu a dica de onde encontrou o osso, sendo o local posteriormente explorado por João Tadeu que acabou por identificar mais fósseis. Assim, através de métodos de prospecção mais acadêmicos, o professor com sua equipe descobririam fósseis de um crocodilomorfo desconhecido até então. Identificaram os restos de dois indivíduos, sendo que um deles estava bem mais completo, consistindo num crânio quase completo, costelas e uma vertebra cervical completa, vértebra dorsal, escapula, rádio esquerdo, ulna, couraça, a pata dianteira esquerda entre outras partes. O segundo foi identificado apenas por algumas partes incompletas de sua maxila fossilizada, contendo elementos frontais de seu focinho.

   O material foi armazenado no Museu de Paleontologia de Monte Alto, sendo posteriormente estudado em detalhes pelos pesquisadores Thiago Marinho e Ismar Carvalho durante mais de 4 anos, sendo o animal apresentado por eles à comunidade acadêmica em 2009 através de artigo cientifico publicado na revista “South American Earth Sciences”. Na época, muitas reportagens apelidaram o Armadillosuchus de jacaré-tatu ou crocodilo-tatu, devido às suas características peculiares e inéditas para este grupo de répteis.

ETIMOLOGIA:

   O réptil foi batizado de Armadillosuchus arrudai, sendo que Armadillo é uma palavra espanhola utilizada para nomear mamíferos como o Tatu-Bola. A própria palavra armadillo vem do Latim armatus, uma referência à “armadura” que os tatus dispõe nas costas. A palavra em Grego, souchus, significa crocodilo. Daí surge a denominação Crocodilo-Tatu. O nome da espécie, arrudai, é uma homenagem a João Tadeu Arruda, importante pesquisador que realizou diversas descobertas paleontológicas na cidade paulista de General Salgado, inclusive do Armadillosuchus.

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Fig. 2: Vista dorsal em 3D do fóssil do Armadillosuchus. Imagem de tomografia computadorizada, retirado do artigo original de 2009.

O ANIMAL:

 

   O Armadillosuchus era um crocodilomorfo com características bem peculiares, diferente do que se imagina para esses répteis. Ele era um animal de ambientes terrestres, possuía um comprimento em torno de 2 metros, uma altura que não passaria de meio metro e um peso de 120 quilos, estimado por pesquisadores. O habitat que este animal estava inserido era o semi-árido, com épocas de secas intensas nas quais a vida dos animais era dificultada pelo calor intenso, com temperaturas de até 45° Celsius, e a escassez de chuvas.

  Contudo, diversas espécies já estavam bem adaptadas para sobreviver e tirar o máximo de proveito deste ecossistema, como o próprio Armadillosuchus. Além das características mencionadas, o Armadillosuchus contava com uma proteção nas costas, tinha o hábito de cavar e viver em tocas, construídas graças as suas garras e, também, a capacidade de variar sua alimentação, podendo ter sido um onívoro ou até mesmo apenas herbívoro.

   Com relação ao fato de viver em tocas, essa não é característica exclusiva do Armadillosuchus, pois diversos crocodilianos, até mesmo os atuais, tem o costume de morar em tocas. Há 90 milhões de anos, com clima muito quente, as tocas permitiram que muitos crocodilomorfos mantivessem a temperatura de seus corpos não tão elevadas. Outro aspecto é o fato dele ser um animal exclusivamente terrestre, que pode ser observado pelo fato das narinas deles serem frontais e não no alto da cabeço como os crocodilos de hoje.

   O mais impressionante foi a sua alimentação, afinal, quando se pensa em répteis como os jacarés logo se imagina que seriam carnívoros. Mas ao analisar os dentes pode-se observar algumas características: eles eram dispostos lateralmente, algo que não ocorre em crocodilos atuais, a cobertura de esmalte dos dentes era muito espessa, o que indica que ele gastava muito os dentes, sendo isto relacionado à mastigação de plantas, afinal pode-se fazer comparação entre os dentes do Armadillosuchus e de mamíferos herbívoros atuais, que desgastam muito seus dentes. Sua alimentação pode ter sido de brotos, raízes, plantas, moluscos ou pedaços de carne, sendo algo difícil de determinar por enquanto, apenas com mais pesquisas ou novas descobertas.

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Fig. 3: Reconstituição de Armadillosuchus. Arte de Ariel Milani.

CARAPAÇA DE TATU:

   O fóssil do Armadillosuchus foi encontrado em sedimentos da Formação Adamantina, na Bacia Bauru, dentro do município de General Salgado, estado de São Paulo. Os geólogos datam esta região como pertencentes as eras Turoniana à Santoniana, Período Cretáceo, o que significa dizer que ele deve ter vivido entre 93,9 a 83,6 milhões de anos atrás.

   Um aspecto que chama atenção do Jacaré-Tatu e está presente no seu nome é a carapaça semelhante à dos tatus. De certa forma há redundância em dizer este réptil crocodiliano possui uma armadura, afinal até mesmo os crocodilos, gaviais e jacarés possuem uma proteção de placas ósseas nas costas. Algo que também ocorria para crocodilianos contemporâneos da época do Armadillosuchus. O diferencial é que a armadura se inicia na cabeça com placas hexagonais e vai até o pescoço. A partir daí, as placas se tornam retangulares e podem se mover, fato observado nos tatus modernos. Conforme o fóssil passou por análise de tomografia computadorizada, percebeu-se que seu dorso possuía essa proteção diferenciada. A função provavelmente era de proteção contra predadores, que podiam ser desde outros crocodilomorfos ou dinossauros carnívoros daquele tempo.  

   Este réptil está quase para um ornitorrinco moderno: carapaça de tatu, corpo de jacaré, dentes de mamíferos como o porco do mato, o provável hábito de cavar e viver em tocas, fazem jus ao nome de Jacaré-Tatu, outro animal interessante que pertenceu à fauna brasileira de milhões de anos atrás.   

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Fig. 4: Reconstituição facial do Armadillosuchus, Arte de Pepi.

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