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Ypupiara lopai

O Ypupiara foi o primeiro dinossauro raptor brasileiro descrito. Com quase 3 metros de comprimento, este predador caçava peixes e pequenos animais que viviam no Brasil durante o final do período Cretáceo. Infelizmente, seus fósseis foram perdidos durante o incêndio no Museu Nacional, em 2018.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: DINOSAURIA

ORDEM: SAURISCHIA

SUBORDEM: TEROPHODA

INFRAORDEM: COELUROSAURIA

CLADO: DEINONYCHOSAURIA

FAMÍLIA: DROMAEOSAURIDAE

SUBFAMÍLIA: UNENLAGIINAE

GÊNERO: YPUPIARA

ESPÉCIE: YPUPIARA LOPAI

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 Fig. 1: arte de Gabriel Ugueto, retirado de https://gabrielugueto.com/paleoart/

DESCOBERTA:

     Em 2021, uma equipe formada pelos pesquisadores brasileiros Arthur Brum, Rodrigo Pêgas, Kamila Bandeira, Lucy Souza, Diogenes Campos e Alexander Kellner, descreveram e batizaram o primeiro raptor brasileiro. Esta pesquisa quase não foi publicada, pois os fósseis deste raptor foram perdidos durante o incêndio que ocorreu no Museu Nacional em 02 de setembro de 2018. Graças ao fato de terem feito todo o registro documental, tirado fotos e guardado toda informação pertinente à espécie, foi o possível batizar o dinossauro, pois tudo estava em conformidade ao Código Internacional de Nomenclatura Zoológica.

   A história do Ypupiara começa entre 1949 e 1961, anos que, em algum momento, seus fósseis foram desenterrados por Ivor Price na cidade de Uberaba, em Minas Gerais. A localidade fica no bairro rural de Peirópolis, na Pedreira Caieira, onde também foram descobertos fósseis do dinossauro Baurutitan e tantos outros vertebrados como crocodilianos e tartarugas. No início dos trabalhos, Price foi auxiliado por Alberto Lopa, técnico do Departamento Nacional de Produção Mineral, que ajudava no desmonte e preparo de fósseis encontrados. Após seu falecimento, o trabalho de feitor de campo de Alberto foi realizado por Langerton Neves.

    Os fósseis consistiam em dois pequenos fragmentos, sendo a maxila com três dentes e a parte inferior da mandíbula. Sem saber do que se tratava, Ivor Price catalogo-os como vertebrado indeterminado no acervo do Museu de Ciências da Terra, no Rio de Janeiro. Em 2017, após quase 60 anos, este material foi redescoberto e transferido ao Museu Nacional para que se pudesse inferir a que tipo de animal pertencia. Logo, os pesquisadores começaram a entender que se tratava de um novo tipo de dinossauro. Porém, com o incêndio no Museu Nacional os trabalhos foram interrompidos e só concluídos posteriormente, com a publicação do artigo em 2021.

 

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 Fig. 2: fósseis encontrados em comparação com o tamanho do Ypupiara, arte de Arthur Brum, divulgação.

ETIMOLOGIA:

   O nome Ypupiara foi sugerido pela paleontóloga Kamila Bandeira, pois este dinossauro teria hábitos alimentares semelhantes às aves ribeirinhas. O nome Ypupiara vem do Tupi, normalmente referindo-se a peixes-boi ou as focas, contudo existe também uma certa questão folclórica com o nome. A história do Ipupiara, na cidade de São Vicente, litoral do estado de São Paulo, que relata sobre o aparecimento de uma criatura no ano de 1564, tendo sido morta a golpes de espada por Baltasar Ferreira.

   Os acontecimentos foram registrados no livro “História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil” e, provavelmente, relata fatos verídicos, visto que a criatura tem uma descrição física semelhante a uma foca, talvez sendo um elefante-marinho ou uma foca-leopardo que se perdeu e foi parar no litoral de São Vicente.

   O nome da espécie do Ypupiara, no caso lopai, é uma homenagem a Alberto Lopa, que auxiliou Ivor Price por muitos anos, certamente participando das escavações de muitos fósseis que hoje estão no Museu de Dinossauros de Peirópolis. De fato, após seu falecimento, Price pretendia batizar uma espécie de dinossauro com o sobrenome de Alberto para homenageá-lo, algo que acabou por não ocorrer.

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 Fig. 3: arte de Guilherme Gehr, retirado de Brum et. al, 2021. Observe que o artista colocou um casal, a pedido dos autores do artigo, sendo o macho aquele com o penacho maior sob a cabeça.

O DINOSSAURO:

   O Ypupiara era um dinossauro carnívoro, bípede, da família dos raptores, o que lhe garantia uma longa garra encurvada, em forma de foice, no segundo dedo do pé. Também possuía garras nas mãos, com uma disposição mais lateral, semelhante as aves modernas, de modo que ele não as usava constantemente para agarrar as presas. Outra semelhança com as aves era o fato de possuírem penas, embora não se saiba a disposição delas quando o animal era vivo.

   O tamanho do dinossauro foi estimado entre 2 a 3 metros de comprimento com 1,5 metros de altura, tendo uma cauda comprida que auxiliava no equilíbrio, sendo o Ypupiara um animal bem ágil. Seu focinho era fino, preenchido com pequenos dentes, espaçados entre eles e não serrilhados. Isto se deve ao tipo de alimento que consumia, no caso animais pequenos e esguios, como os peixes daquela época. Ao pegar uma presa com a boca ele a comia inteira, diferente dos hábitos de outros dromeossauros conhecidos, que caçavam presas maiores do que eles. Apesar de não haver evidências, é possível inferir que o Ypupiara também fosse um bom nadador, predando peixes ou quelônios que estivessem em águas mais profundas.

   Os fósseis dele são datados do final do período Cretáceo, durante o Maastrichtiano, entre 72 e 66 milhões de anos atrás, no que atualmente é considerado como formação Serra da Galga, outrora formação Marília. A Minas Gerais do tempo que ele viveu era bem diferente, já que a região de Uberaba estava cercada por cordilheiras e vulcões ativos, com um clima quente, de temperaturas que chegavam até a 60 graus. Contudo, o ambiente que o Ypupiara vivia era bem peculiar, visto que a geografia da região proporcionou a manutenção de rios e lagos, mesmo nos tempos secos, algo que seria semelhante ao atual Pantanal.

   Naquele ecossistema proliferavam diversos tipos de animais, sendo contemporâneos do Ypupiara os dinossauros saurópodes Baurutitan e Uberabatitan, os crocodilianos como Uberabasuchus, que poderiam ser concorrentes e até predadores dos Ypupiaras, e o Labidiosuchus, que pelo tamanho talvez pudessem ser caçados por Ypupiaras.

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OS UNENLAGÍNEOS:

   O Ypupiara era um unenlagíneo, um grupo de dromeossauros que são endêmicos da porção sul do planeta durante o Cretáceo. Se sabe muito pouco deles no momento, mas parecem possuir características diferentes de acordo com os habitats que viviam. Por exemplo, o Ypupiara apresenta dentes não serrilhados e espaçados, de modo que deveriam pegar presas, como peixes, e apenas engoli-las.

    Devido à escassez de fósseis do Ypupiara, comparou-se mais suscintamente com os unenlagíneos argentinos Austroraptor e Buitreraptor. O primeiro era contemporâneo de época do Ypupiara, porém a semelhança maior estava com o Buitreraptor, especialmente em relação aos dentes. Contudo mais de 20 milhões de anos separam estes dinossauros, além de que o Buitreraptor deveria ser um predador mais generalistas, sem vínculos com hábitos aquáticos.

    Também se supõe que durante o Cretáceo, os unenlagíneos argentinos não conseguiam adentrar ao território brasileiro, pois o Deserto do Caiuá, no território do estado do Paraná, barrava a expansão desta família. Somente no final do Cretáceo, com o aumento da umidade, estes pequenos predadores puderam se espalhar melhor pela América do Sul, explorando outras áreas e habitats, até o final da era dos dinossauros.

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LOPASAURUS E OUTROS DROMEOSSAUROS DO BRASIL:

   Entre as várias escavações e pesquisas que Ivor Price realizou, tem-se que ele iniciou estudos em partes de um metatarso direito, ainda na década de 60, com a intenção de nomeá-lo de Lopasaurus, em tributo a Alberto Lopa, que havia participado da descoberta e, provavelmente, já havia falecido nessa época. Price nunca publicou tal estudo e os ossos do metatarso se perderam com os anos, porém ao estudarem o Ypupiara, notou-se que tais fósseis poderiam pertencer a um dromeossauro, mas não o associaram diretamente ao Ypupiara.

   De fato, nos últimos anos, muitos elementos de unenlagíneos tem sido descobertos e catalogados, especialmente os dentes destes dinossauros. As variedades de dentes encontrados em Minas Gerais e São Paulo indicam a presença de diferentes tipos de dromeossauros, talvez adaptados a caçar outras presas e vivendo em habitats diferentes em relação ao Ypupiara, sendo este apenas o primeiro de um grupo que, com mais descobertas e pesquisas, revelarão mais dinossauros brasileiros.

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 Fig. 6: prancheta com desenho do metatarso direito perdido do Lopasaurus, retirado de Brum et. al, 2021.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRUM, A. S. et al. A new unenlagiine (Theropoda, Dromaeosauridae) from the Upper Cretaceous of Brazil. Papers in Palaeontology, v. 7, n. 4, p. 2075-2099, 2021.

 

CASSAB, R. de C. T.; DE MELO, D. J. Atividades paleontológicas de Llewellyn Ivor Price (1905-1980) em Peirópolis, município de Uberaba (MG), de 1948 a 1960. Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, 15º. Anais. Rio de Janeiro, Lorianopolis, Sociedade Brasileira de História da Ciência, Universidade Federal de Santa Catarina. p, p. 1-14, 2016.

 

https://conexao.ufrj.br/2021/09/ypupiara-lopai-uma-nova-especie-de-dinossauro-brasileiro/

 

https://faunanews.com.br/2021/08/06/ypupiara-o-primeiro-raptor-brasileiro/

 

https://www.cidadeecultura.com/lenda-do-ipupiara-sao-vicente/

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