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Pissarrachampsa sera

O Pissarrachampsa foi um predador crocodiliano terrestre que viveu durante o Período Cretáceo, cerca de 90 milhões de anos atrás, na região do Triangulo Mineiro. Naquele tempo o clima local era bem árido e contava ainda com a presença dos grandes dinossauros na paisagem.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: CROCODYLOMORPHA

CLADO: CROCODYLIFORME

CLADO: MESOEUCROCODYLIA

CLADO: METASUCHIA

SUBORDEM: NOTOSUCHIA

CLADO: SEBECOSUCHIA

FAMÍLIA: BAURUSUCHIDAE

SUBFAMÍLIA: PISSARRACHAMPSINAE

GÊNERO: PISSARRACHAMPSA

ESPÉCIE: PISSARRACHAMPSA SERA

Pissarrachampsa 1.jpg

Fig. 1: Arte de Hans C. E. Larsson / Divulgação.

DESCOBERTA:

  O Pissarrachampsa foi o primeiro predador crocodilomorfo terrestre, mais especificamente da família dos Baurusuchus, descoberto e descrito para o estado de Minas Gerais. Até então outras espécies da família Baurusuchidae eram conhecidas no Brasil unicamente por fósseis do estado de São Paulo. Há também materiais da família descritos na Argentina e, possivelmente, no Paquistão.

   Os fósseis do Pissarrachampsa foram coletados em junho de 2008 na Fazenda Inhaúmas-Arantes, localizada em Campina Verde, Minas Gerais, pela equipe do Laboratório de Paleontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), que entre 2008 e 2010 realizou prospecções na região atrás de fósseis. Foram identificados dois indivíduos do Pissarrachampsa, estudados e descritos em 2011 como uma nova espécie, por meio de artigo científico assinado pelos pesquisadores Felipe Montefeltro, Hans Larsson e Max C. Langer.

   O estudo realizado não descreveu apenas o Pissarrachampsa, mas também fez uma nova análise filogenética dos crocodilomorfos terrestres que existiram durante a Era Mesozóica. Até o momento, os paleontólogos faziam a classificação desses répteis baseando-se apenas no estudo do crânio, sem considerar os fósseis do restante do corpo (elementos pós-cranianos). Após analisá-los, conclui-se que tanto a classificação antiga quanto a proposta, baseada nos elementos pós-cranianos, eram muito semelhantes, com poucas diferenças. Ainda assim, a equipe que identificou o Pissarrachampsa sugeriu que em pesquisas futuras utilizasse tanto os resultados de estudos do crânio quanto do pós-craniano para melhor identificação cladística dos crocodilomorfo.

   A conclusão final da pesquisa foi que o Pissarrachampsa era parente do Wargosuchus da Argentina, sendo criado uma nova subfamília batizada de Pissarrachampsinae. Em 2011 outro crocodilomorfo terrestre, o Campinasuchus, também de Minas Gerais, foi incluído no grupo.   

ETIMOLOGIA:

   O nome do Pissarrachampsa sera surgiu da combinação de vários fatores. Inicialmente o batismo do gênero ocorreu com a junção da palavra Piçarra, que é o nome do solo arenoso da qual vem o fóssil deste animal, e o sufixo grego latinizado como champsa, que significa crocodilo. Agora o nome da espécie, sera, foi dado por dois motivos. O primeiro relaciona-se ao fato da mesma palavra em latim ser traduzida como “tarde ou último”. Isto porque o fóssil do Pissarrachampsa quase foi deixado para trás, sem ser retirado do solo, visto o prazo apertado da equipe de escavação para terminar os serviços. Também é uma referência ao estado de Minas Gerais, pois em sua bandeira encontra-se o lema dos Inconfidentes grafada em latim “Libertas Quæ Sera Tamen”, que em português significa Liberdade Ainda Que Tardia.          

Pissarrachampsa.jpg

O ANIMAL:

 

   O Pissarrachampsa era sem dúvida um predador ativo, não apenas por sua postura quadrupede ereta, como por seus dentes hipertrofiados e narinas dispostas frontalmente. De seu focinho até a ponta de sua cauda ele deveria medir até 3 metros de comprimento e 1 metro de altura, sendo um crocodilomorfo carnívoro muito grande e provavelmente estava no topo da cadeia alimentar.

   Apesar de tudo, é pouco provável que caçasse os dinossauros saurópodes que habitavam aquela porção de Minas Gerais em tempos remotos. Talvez, em grupo, conseguisse abater os filhotes. Ainda assim, sua dieta devia se basear em presas menores, como mamíferos, outros crocodilomorfos e dinossauros menores. O ecossistema que viveu era árido e semiárido, com estiagens e épocas de grandes tempestades se alternando, algo muito comum na Formação Adamantina entre as idades do Turoniano e Santoniano, entre 93,9 e 83,6 milhões de anos atrás, durante o Período Cretáceo.

   Outro ponto interessante sobre o Pissarrachampsa está nos osteodermos que normalmente ocorrem nas costas dos crocodilianos tanto atuais quanto antigos. Já havia sido constatado em outros baurussuquídeos a diminuição dos mesmo, porém em Pissarrachampsa não foi encontrado associado ao fóssil nenhum osteodermo. Muito provavelmente, com adaptação ao ambiente terrestre, esses animais acabaram por perder totalmente esta característica, já que sua utilidade já havia sido superada.   

 

OVOS CROCODILIANOS:

 

   A medida que outras prospecções continuavam na fazenda Inhaúmas-Arantes outros fósseis foram desenterrados, no caso um juvenil de Pissarrachampsa e também ovos fossilizados, que com certeza pertenciam a este espécime. Ovos de baurussuquídeos já são conhecidos entre paleontólogos e, com esta descoberta, não foi difícil associar a que animal pertenciam.

  O Pissarrachampsa, como seu parentes, adotava o hábito de se proteger do clima quente de dia e frio a noite vivendo em tocas. O que garantiu boa preservação não só de indivíduos fósseis, como também de seus ovos. Porém, não foi a preservação dos ovos que chamou atenção, mas sim no fato de eles sempre estarem associados a 4 ou 5 deles. Isto porque crocodilianos atuais, como os jacarés, costumam chocar em torno de 25 a 30 ovos associados, estratégia essa para que mais filhotes cheguem a idade adulta.

   Ora, se o Pissarrachampsa adotava uma cópula restrita de ovos, sua estratégia também devia ser diferente. Muito provavelmente a quantidade reduzida de filhotes era compensada com um cuidado maior das crias, protegendo-as até que chegassem a idade adulta, talvez este animal pré-histórico vivesse em bandos, muito semelhante a lobos e felinos atuais.

Pissarrachampsa ovos.png

Fig. 3: Ovos fossilizados relacionados ao Pissarrachampsa, retirado de Marsola et. al. 2016 (Adaptado).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Montefeltro, F. C.; Larsson, H. C. E.; Langer, L. C. 2011. A new baurusuchid (Crocodyliformes, Mesoeucrocodylia) from the Late Cretaceous of Brazil and the Phylogeny of Baurusuchidae. Plos One, 6 (7): e21916.

 

Godoy et al. (2016), Postcranial anatomy of Pissarrachampsa sera (Crocodyliformes, Baurusuchidae) from the Late Cretaceous of Brazil: insights on lifestyle and phylogenetic significance. PeerJ 4: e2075; DOI 10.7717/peerj.2075

 

Marsola, J., Batezelli, A., Montefeltro, F., Grellet-Tinner, G., Langer, M. 2016. Palaeoenvironmental characterization of a crocodilian nesting site from the Late Cretaceous of Brazil and the evolution of crocodyliform nesting strategies. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. doi: 10.1016/j.palaeo.2016.06.020

 

https://blogs.scientificamerican.com/laelaps/paleontologists-uncover-ancient-crocodile-nesting-ground-in-brazil/

 

https://apeiroon.wordpress.com/2016/06/02/a-lenda-do-crocodilo-que-so-tinha-cabeca/

 

https://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/ha-70-milhoes-de-anos-supercrocodilo-mineiro-comia-dinossauros/n1597107718950.html

 

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