top of page

Saturnalia tupiniquim

O Saturnalia é o mais antigo dinossauro achado no território brasileiro e um dos mais antigos do mundo, com idade aproximada de 233 milhões de anos, pertencendo ao grupo de animais que deu origem aos gigantes saurópodes, popularmente conhecidos como prossaurópodes.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: DINOSAURIA

ORDEM: SAURISCHIA

SUBORDEM: SAUROPODOMORPHA

INFRAORDEM: PROSAUROPODA

FAMÍLIA: SATURNALIIDAE

GÊNERO: SATURNALIA

ESPÉCIE: SATURNALIA TUPINIQUIM

DESCOBERTA:

   No início de 1998, foram encontrados três esqueletos fósseis próximos à cidade de Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul, na Zona Rincossauro da Formação Santa Maria. Esta região pertence ao Membro Alemoa, dentro Bacia Paraná, conhecida mundialmente como Paleorrota, área do Brasil explorada desde 1901, visto a riqueza de fósseis do período Triássico.

   A equipe do paleontólogo Max C. Langer, que identificou o animal, retirou o bloco de terra contendo os três dinossauros, observando ser do mesmo tempo que viveram o Estauricossauro, o primeiro dinossauro descrito no Brasil, e outros animais como o arcossauro Hoplitosuchus rauie, o cinodonte Gomphodontosuchus brasiliensis, e tanto outros animais anteriores ao domínio definitivo dos dinossauros. Em 1999, Saturnalia foi oficialmente descrito e, devido à sua importância, continuou a ser estudado nos anos que se seguiram.

   Por exemplo, não se conhecia todos os restos do crânio do animal, porém ao continuarem preparando os fósseis do Saturnalia que ainda estava incrustados no solo, descobriu-se porções da cabeça e mandíbula do animal. Um primeiro estudo foi feito em 2018, com uma parte do osso do crânio, e em 2019 um trabalho aprofundando mais os outros elementos encontrados foi liderado pelo pesquisador ‪Mario Bronzati, atualizando a árvore genealógica deste dinossauro.

   Devido à fragilidade dos ossos fossilizados, com risco de serem destruídos caso retirados totalmente do bloco de terra, foram feitas tomografias na Coleção Zoológica do Estado de Munique, na Alemanha. Assim, foi possível reconstruir em primeira mão a possível aparência do réptil, seus dentes e o seu cérebro, algo inédito para um dinossauro do Triássico. 

   Os três Saturnalias descobertos na formação Santa Maria são do Triássico Superior, em uma idade conhecida como Carniana, que varia de 227 a 237 milhões de anos atrás. Um estudo apresentado em 2018 precisou a idade exata como sendo de 233 milhões de anos atrás, baseando-se no decaimento do urânio (U-Pb), o que indica o Saturnalia como um dos primeiros dinossauros verdadeiros a habitar o planeta.  

 Fig. 2: Reconstituição do Saturnalia, baseado nos fósseis do crânio (em branco). Arte de Rodolfo Nogueira, divulgação.

ETIMOLOGIA:

 

   O dinossauro foi encontrado durante o Carnaval brasileiro de 1998, razão pela qual foi batizado de Saturnalia, pois havia uma festa no Império Romano chamada satunalia que se acredita ter dado origem as festas do carnaval e também influenciou a promulgação do Natal no final dezembro. Esta festa era realizada em homenagem ao deus romano Saturno, que era conhecido como Cronos pelos gregos, sendo este o deus que comia os próprios filhos, pai de Zeus, Hades e Poseidon.   

   Já tupiniquim é um termo utilizado para se referir as “coisas” brasileiras, em alusão ao povo Tupiniquim ao qual boa parte dos brasileiros da região costeira descendem, devido à parceria inicial entre eles e os portugueses no início do século XVI.

 Fig. 3: Tamanho de Saturnalia em relação ao homem. Retirada as (21/01/12 às 13:40) de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Saturnalia_SIZE.png

O DINOSSAURO:

 

   Com cerca de 1,5 metros de comprimento e um crânio com 1/3 do tamanho do fêmur, em torno de 10 centímetros, Saturnalia possuía dentes pequenos em forma de lança e ossos que se assemelhavam tanto aos prossaurópodes quanto os terópodes. Pequeno, não pesava mais que 30 quilos, andava tanto sobre duas ou quatro pernas, embora talvez suas mãos lhe garantissem alguma mobilidade em agarrar e pegar presas.

   Aliás, Saturnalia embora antepassado dos herbívoros saurópodes, tinha uma dieta onívora. Descobriu-se isso graças aos seus dentes e ao estudo do cérebro do Saturnalia, na qual notou-se o flóculo e o paraflóculo do cerebelo desenvolvidos, algo comum em predadores. Portanto, ele era um animal ágil e atento ao ambiente, característica de um predador ativo, talvez sendo oportunista de pequenos animais como lagartos e mamíferos, ou insetos e outros artrópodes.

   Seu pescoço era longo e o crânio pequeno, algo que se manteria nos dinossauros pescoçudos que surgiriam no futuro, contudo, a cabeça pequena parece ser devido aos hábitos predatórios, dando mobilidade e agilidade quando necessário. Sua cauda longa servia para dar um equilíbrio, além de jamais tocar no solo, mantendo o Saturnalia na horizontal, tanto nas duas ou quatro patas. Não se sabe se possuía penas ou sua pele era recoberta por escamas coloridas, mas, provavelmente, ele teria uma aparência em equilíbrio com as florestas daquele tempo.

   Apesar de características de predador, Saturnalia deveria ser presa de outros animais da época, como o dinossauro conterrâneo Estauricossauro, além dos temíveis Prestosuchus, répteis parecidos com jacarés, porém de hábitos completamente terrestres. Nessas horas, ser ágil e rápido ajudava na fuga e a evitar ataques de outros animais. O fato de terem descoberto três Saturnalias juntos, talvez indicasse uma vida em bandos, incrementando ainda mais a segurança dessa espécie diante das selvas triássicas.

Fig. 4: Arte de Voltaire Paes Neto, retirado http://voltaireportifolio.blogspot.com/

PALEOECOLOGIA:

 

   O Rio Grande do Sul de 233 milhões de anos atrás era bem peculiar, pois vivam animais únicos como os rincossauros, tal qual o Hyperodapedon, os Dicinodontes, além de Cinodontes, os primeiros mamíferos e outros tantos animais daquela fauna. Dinossauros ainda eram raros, porém já estavam se espalhando e se adaptando à condição ecológica de cada região do globo, sendo o Brasil o provável berço desses animais. Além do Estauricossauro, outro dinossauro conterrâneo e descoberto próximo ao Saturnalia foi o pequeno Nhandumirim.   

   Os primeiros estudos dos restos fósseis do Saturnalia o colocaram na família do Guaibassauro, dinossauro brasileiro do mesmo período, devido às semelhanças dos gêneros. Porém, hoje se separa tais animais, criando uma família independente chamada de Saturnaliidae, visto que o Saturnalia estava mais próximo dos saurópodes e o Guaibassauro dos terópodes. Então pode-se concluir que a origem dos diferentes tipos de dinossauros começou, também, na América do Sul, com estes se espalhando pelo mundo quando só havia um único continente, a Pangéia.

   De fato, em decorrência da extinção do Permiano-Triássico, os dinossauros seriam os maiores animais que a Terra já viu e, os descendentes do Saturnalia, um dos herbívoros mais comuns encontrados durante a Era dos Dinossauros; os célebres dinossauros pescoçudos.

Fig. 5: retirada de http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14228.shtml (no dia 21/01/12 ás 14:00).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Langer, M.C., Abdala, F., Richter, M., and Benton, M. (1999). "A sauropodomorph dinosaur from the Upper Triassic (Carnian) of southern Brazil." Comptes Rendus de l'AcadémiedesSciences, 329: 511-517.

Bronzati M., Müller R. T., Langer M. C. (2019) Skull remains of the dinosaur Saturnalia tupiniquim (Late Triassic, Brazil): With comments on the early evolution of sauropodomorph feeding behaviour. PLoS ONE 14 (9): e0221387.

 

Langer, M. C.; Ramezani, J.; Da Rosa, Á. A. S. (2018). "U-Pb age constraints on dinosaur rise from south Brazil". Gondwana Research. X (18): 133–140.

 

Langer, M. C. et al. The early radiation of sauropodomorphs in the Carnian (Late Triassic) of South America. In: South American Sauropodomorph Dinosaurs: Record, Diversity and Evolution. Cham: Springer International Publishing, 2022. p. 1-49.

 

https://www.blogs.unicamp.br/colecionadores/2017/09/20/cabeca-de-predador-dinossauro-brasileiro-ajuda-a-compreender-a-evolucao-do-grupo/

 

https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/cranio-de-dinossauro-brasileiro-e-reconstruido-digitalmente/

 

https://jornal.usp.br/ciencias/pesquisadores-reconstroem-cerebro-de-um-dos-dinossauros-mais-antigos-do-mundo/

 

https://revistapesquisa.fapesp.br/pesquisadores-reconstituem-o-cerebro-de-dinossauro-de-230-milhoes-de-anos/

 

bottom of page