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Caieiria allocaudata

O Caieiria foi um dinossauro descrito em 2022, quando estudos no Trigonossauro revelaram que ele era, na verdade, formado por partes do Baurutitan e outro titanossauro desconhecido. Este desconhecido era diferente o suficiente pra ser revisto e batizado como Caieiria. Ele foi um dinossauro saurópode, de pescoço e cauda longos, que habitou o Brasil durante o Período Cretáceo.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

SUPERORDEM: DINOSAURIA

ORDEM: SAURISCHIA

SUBORDEM: SAUROPODOMORPHA

INFRAORDEM: SAUROPODA

CLADO: TITANOSAURIA

FAMÍLIA: AEOLOSAURIDAE

TRIBO: AEOLOSAURINI

GÊNERO: CAIEIRIA

ESPÉCIE: CAIEIRIA ALLOCAUDATA

DESCOBERTA:

 

   Foram encontrados dois restos fósseis de um titanossauro em Peirópolis, bairro rural de Uberaba, estado de Minas Gerais, durante escavações realizadas por Llewellyn Ivor Price na década de 50 em uma pedreira conhecida como Caieira, pertencente à Formação Serra da Galga, do Grupo Bauru, anteriormente ligada à Formação Marília.

    Do primeiro exemplar foram coletadas as últimas cinco vértebras cervicais, dez vértebras dorsais, seis sacrais e o ílio esquerdo, enquanto que do segundo exemplar foram coletadas dez vértebras caudais que, embora estivessem separadas uma das outras, ainda assim, apresentaram um tamanho e padrão combativeís para pertencer a um indivíduo, pelo menos foi o que se pensou na época.

   Este não foi o único achado de fósseis na localidade, visto que Price fez escavações na pedreira Caieira de 1949 até 1961, encontrando uma variedades de fósseis que representavam não só dinossauros, mas outros répteis, peixes e invertebrados. Todavia, não foram feitos estudos mais específicos para se identificar quais fósseis de animais foram descobertos, sendo o caso destes restos de titanossauros, que receberam o nome provisório de “Série B” e encaminhados ao Museu de Ciência da Terra, do Departamento Nacional de Produção Mineral, na cidade do Rio de Janeiro.

Fig. 2: fósseis da porção caudal do Caieiria (adaptado), retirado de Silva Junior et. al (2022).

DESCRIÇÃO E DESCOBERTA DO ERRO:

 

   Foram encontrados três tipos de saurópodes na pedreira Caieira, sendo que Price acreditava que ambos representavam um mesmo tipo de dinossauro, mas só que de tamanhos diferentes. Porém, após estudar um pouco mais os restos da “Série B” ele concluiu que se tratavam de restos de dinossauros completamente diferentes, embora todos pertencendo ao clado dos titanossauros.

   Apesar de não ter sido identificado, durante muitos anos a “Série B” foi estudada por muitos autores que a utilizavam como referência, devido ao seu material fóssil um pouco mais completo e porque a série representava dois indivíduos da mesma espécie. Somente em 2005 ele foi batizado oficialmente e apresentado ao mundo científico pelos paleontólogos Diógenes de Almeida Campos, Alexander Kellner, Reinaldo Bertini e Rodrigo Santucci, nomeado de Trigonosaurus pricei.

   Contudo, em 2022, um estudo apresentando novos restos de um indivíduo de Baurutitan, identificaram que partes do esqueleto do Trigonossauro eram de um Baurutitan. A exceção eram as vértebras caudais que não eram compatíveis com o espécime, sendo, inclusive, bem diferentes de outros saurópodes conhecidos. Portanto, o nome Trigonossauro não poderia mais ser usado, visto que a descrição física usada para o designar servia para o Baurutitan.

   As vértebras caudais, no entanto, pertenciam a um novo dinossauro, de modo que foi possível batizar o Caieiria como mais um representante de titanossauro brasileiro, por intermédio de artigo publicado e assinado pelos pesquisadores Julian Silva Junior, Agustín Martinelli, Thiago Marinho, João Ismael da Silva e Max C. Langer.

Fig. 3: Fósseis atribuídos antes ao Baurutitan e Trigonossauro (acima) e fósseis relacionados atualmente a Baurutitan e Caieiria atualmente (abaixo). Retirado de https://www.macnconicet.gob.ar/titanosaurio-sudamericano/.

ETIMOLOGIA:

 

    Caieiria foi nomeado fazendo referência à Pedreira Caieira, local de sua descoberta e de tantos outros animais pré-históricos mineiros, graças as prospecções realizadas por Ivor Price em meados da década de 50 e 60. O nome da espécie, allocaudata, é a junção da palavra grega allo, que significa estranho, e cauda como uma alusão ao estranho formato do rabo do dinossauro.

   Anteriormente, o nome de Trigonosaurus pricei era uma referência à região do estado de Minas Gerais, conhecida como Triângulo Mineiro, e uma homenagem ao pesquisador Ivor Price, seu descobridor e importante figura paleontológica brasileira.

O DINOSSAURO:

 

   O Caieiria foi um dinossauro herbívoro que habitou o Brasil, com um comprimento da cabeça até a cauda em torno de 9 a 10 metros e uma altura aproximada de 3 metros. Deveria alimentar-se constantemente de brotos e plantas típicas da época, como samambaias primitivas e coníferas, para sustentar seu enorme tamanho, além de viver em bandos. Como apenas parte de sua cauda é conhecida ainda existem certas incertezas sobre sua aparência, embora fosse semelhante a outros pescoçudos.

   Teria vivido na era Maastrichtiana entre 72 e 66 milhões de anos atrás, no Período Cretáceo, sendo que o Brasil naquela época era completamente diferente. A fauna local era representada por diferentes grupos de répteis, como tartarugas, crocodilomorfos e outros dinossauros. Já o clima era separado por duas estações tipicas: a da seca e a das chuvas, embora prevalecesse a aridez ao longo do ano.

   O Caieiria foi conterrâneo do Baurutitan, outro titanossauro brasileiro, visto que seus fosséis foram encontrados no mesmo local. Embora houvesse uma predominância de titanossauros na região, cada um era de um jeito, com hábitos alimentares ou mesmo aparência diferente uns dos outros, demonstrando que o mundo dos dinossauros era muito mais complexo do que pensavam os cientistas até alguns anos atrás.

FORMAÇÃO SERRA DA GALGA:

 

    A Formação Marília era conhecida por abranger muitas subdivisões dentro do Grupo Bauru, entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. Hoje existe uma separação importante entre essa formação e a Formação Serra da Galga, na região de Uberaba, de modo que muitos animais pré-históricos passaram a ser exclusivos desta última.

   A Formação Serra da Galga apresenta fósseis do final do Cretáceo, antes do fim da era dos dinossauros. Era caracterizada por um ambiente árido e quente, mas com chuvas sazonais que transformavam o local num ambiente parecido com o Pantanal hoje em dia. Era lar de tipos diferentes de titanossauros, abelissauros, crocodilianos, tartarugas, cobras, anfíbios, peixes e uma flora de plantas com e sem flores.

   Também se constatou que algumas regiões serviam de chocadeira natural de ninhos de dinossauros saurópodes, pois foram encontrados ovos que foram postos ao longo de milênios. Talvez o Caieiria fizesse como as tartarugas atuais, voltando para o local de nascimento, cavando buracos e depositando seus ovos que seriam soterrados em seguida pelo dinossauro, para usar o calor natural da terra para incubar sua prole.

Fig. 5: ninhos sobrepostos de titanossauros (adaptado). Retirado de Fiorelli et. al, 2022.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Kellner, A. W., Campos, D. D. A, Trotta, M. N. F. (2005). Description of a titanosaurid caudal series from the Bauru Group, Late Cretaceous of Brazil. Arquivos do Museu Nacional 63(3): 529–564.

 

Junior, J. C. S., Martinelli, A. G., Marinho, T. S., da Silva, J. I., & Langer, M. C. (2022). New specimens of Baurutitan britoi and a taxonomic reassessment of the titanosaur dinosaur fauna (Sauropoda) from the Serra da Galga Formation (Late Cretaceous) of Brazil. PeerJ, 10, e14333.

 

Fiorelli, L. E., Martinelli, A. G., da Silva, J. I., Hechenleitner, E. M., Soares, M. V. T., Silva Junior, J. C., ... & da Silva Marinho, T. (2022). First titanosaur dinosaur nesting site from the Late Cretaceous of Brazil. Scientific Reports, 12(1), 5091.

 

https://www.macnconicet.gob.ar/titanosaurio-sudamericano/

 

https://www.sci.news/paleontology/caieiria-allocaudata-11470.html

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