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Tupuxuara longicristatus

O Tupuxuara foi um pterossauro brasileiro que possuía uma crista óssea sob a cabeça, se destacando entre os outros pterossauros do Cretáceo. Com uma envergadura de assas de até 5 metros de comprimento, sua descoberta revelou um diferente tipo de réptil voador exclusivo, até então, no Brasil.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

ORDEM: PTEROSAURIA

SUBORDEM: PTERODACTYLOIDEA

SUPERFAMÍLIA: AZHDARCHOIDEA

FAMÍLIA: TAPEJARIDAE

SUBFAMÍLIA: THALASSODROMINAE

GÊNERO: TUPUXUARA

ESPÉCIE: TUPUXUARA LONGICRISTATUS

DESCOBERTA:

   Em 1988 os paleontólogos Alexander Kellner e Diógenes Campos descreveram uma nova espécie de pterossauro brasileiro, batizado de Tupuxuara com base em uma porção do crânio do animal, ainda preso à rocha que pertencia à Coleção Désirée, acervo particular de Rainer Alexander von Blittersdorff, pai do pesquisador Alexander Kellner. O material veio da Chapada do Araripe, porém de local desconhecido, talvez do estado do Ceará, correspondendo a parte anterior do crânio com a crista sagital, parte distal dos quatro primeiros metacarpos direitos, parte distal do IV metacarpo esquerdo, parte da falange direita, uma ungueal e parte de uma falange esquerda.

  Em 1994, os mesmos autores descreveram uma segunda espécie, com base a uma fóssil pertencente a Coleção de Paleontologia do Departamento Nacional da Produção mineral, na cidade do Rio de Janeiro, constituída por uma parte incompleta do crânio, contendo a pré-maxila, a maxila e o osso palatino. Uma terceira espécie foi descrita em 2009 por Mark Witton, baseando em um fóssil incompleto e fragmentado também do crânio e parte da crista, tendo sido ilegalmente adquirido pelo Museu Estadual de História Natural Karlsruhe, na Alemanha. Contudo, esta terceira espécie parece pertencer a um outro tipo de pterossauro, não sendo um Tupuxuara.

  Outros espécimes de Tupuxuaras já forma descritos ao longo dos anos, alguns dele em museus no Brasil e outros em museus no exterior, devido ao comércio ilegal. Este pterossauro chamou a atenção por se tratar de um novo grupo que até então não se sabia ter existido no Brasil, mais tarde agrupado junto com o Tapejara, o Thalassodromeus e o Tupandactylus, repteis voadores com cristas bem características.

 

Fig. 2: Fóssil da porção do crânio com a crista, retirado de Kellner e Campos (1988).

ETIMOLOGIA:

  Observei que o nome dado ao pterossauro era pra significar espirito familiar em Tupi, contudo a palavra Tupuxuara não existe no vocabulário. Pelo o que descobri os autores erraram na hora de transcrever o nome para o artigo, pois Tupixuara, trocando o I pelo U, é que significa o conceito de espírito familiar em Tupi. Ou seja, o nome Tupuxuara é um nome inventado sem nenhum significado próprio.

   O nome da espécie é longicristatus, união das palavras latinas longus e cristatus, que respectivamente significam longo e dotado de crista, em referência à crista do réptil voador. A título de curiosidade as outras possíveis espécies de Tupuxuara batizadas tem os seguintes nomes: leonardii para homenagear Giuseppe Leonardi, que muito contribuiu para paleontologia brasileira, e deliradamus, junção de palavras latinas para maluco e diamante, em referência ao perfil angular da fenestra anterorbital do fóssil e uma homenagem à banda Pink Floyd.

O PTEROSSAURO:

 

   O Tupuxuara foi um pterossauro com cerca de um metro de altura e 5 metros de envergadura de assas, com um bico desdentado e alongado de pouco mais de 1,5 metro de comprimento, sendo que sobre a cabeça havia uma crista, iniciando do bico e elevando-se à medida que passava os olhos, com um formato arredondado ou alongado. A falta de fósseis mais completos ainda dificulta ter certeza do formato.

   A respeito da crista, ela era fortemente irrigada por sangue, indicando ou um sistema de refrigeração do animal ou uma maneira de destacar a crista, tanto para uma forma de comunicação ou para os machos impressionarem as fêmeas na época do acasalamento. Outra característica está no fato dos filhotes não terem uma crista totalmente desenvolvida, só acontecendo quando se tornam adultos, o que também indicaria que machos e fêmeas teriam cristas diferentes.

   Ele viveu durante o período Cretáceo, em algum momento do Albiano, entre 113 e 100,5 milhões de anos atrás, visto que seus fósseis aparentemente provêm da Formação Romualdo, dentro do Grupo Santana, na região Nordeste brasileira. Ele foi contemporâneo de outros pterossauros como o Tapejara e o Tropeognathus.

  A alimentação do Tupuxuara ainda é desconhecida, apesar de ter sido encontrado na região da Chapada do Araripe, que no tempo dos dinossauros foi a costa do oceano Atlântico, o que deduziria uma alimentação por peixes. Como o Thalassodromeus, ele poderia passar sob a superfície da água ou mesmo mergulhar para abocanhar o peixe. No entanto, também é provável que se alimentasse de pequenos animais terrestres, caçando-os em terra mesmo, carniça, ou de frutos e plantas daquele período, sendo está mais uma questão ainda a ser resolvida, especialmente porque seu bico desdentado abre um leque de possibilidades.     

Fig. 4: Arte de Júlia d´Oliveira, retirado de https://www.deviantart.com/judoliveira.

AS OUTRAS ESPÉCIES DE TUPUXUARA:

 

   Ao longo dos anos outros autores reportaram novos espécimes de Tupuxuara, sendo que alguns encontram-se nos acervos de museus nacionais, de modo que foi possível interpretar novas características para esta espécie de pterossauro. Contudo, alguns desses fósseis foram comercializados ilegalmente ao exterior, fazendo com que o Brasil perdesse material cultural e, ao mesmo tempo, fossem produzidas informações conflitantes sobre o Tupuxuara.

   Um exemplo foi a teoria de que o Tupuxuara e o Thalassodromeus fossem o mesmo animal, sendo este último a versão adulta, com crista completamente desenvolvida. Esta possibilidade já foi descartada, embora o fóssil do filhote de Tupuxuara responsável pela ideia revelasse que a crista desses répteis voadores crescia ao longo dos anos até a idade adulta. Existe também a questão da terceira espécie de Tupuxuara, que por ser de material incompleto pode representar uma nova espécie de pterossauro, com similaridades ao pterossauro brasileiro Caupedactylus, porém ainda é preciso mais estudos sobre isso.

  Um fóssil do crânio de Tupuxuara contrabandeado ao Museu de Karlsruhe, na Alemanha, mostra uma desfiguração dos ossos, indicando que o animal bateu em alguma coisa ou mesmo foi destroçado por algum predador. O mesmo museu parece possuir um fóssil do corpo de Tupuxuara, sem o crânio ligado a ele. No Japão parece haver um fóssil bem preservado de Tupuxuara, ainda não estudado, contudo, sua localização é desconhecida, sendo reportado a um museu chamado Goshura, sem referência de endereço.

   O fato de tantos fósseis incompletos estarem espalhados dificulta a definição certeira da aparência do Tupuxuara, podendo ser que as diferenças registradas nas espécies longicristatus e leonardii sejam apenas entre machos e fêmeas ou de indivíduos de idades diferentes. À medida que fósseis mais completos sejam encontrados será possível determinar com mais clareza se as espécies são validas e qual era a aparência mais certeira deste antigo pterossauro brasileiro.        

Fig. 5: Arte de Lucas Attwell, retirado de https://www.deviantart.com/lucas-attwell/art/Tupuxuara-789832979.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Kellner, A. W. A., Campos, D. A. (1988). "Sobre um novo pterossauro com crista sagital da Bacia do Araripe, Cretáceo Inferior do Nordeste do Brasil. (Pterosauria, Tupuxuara, Cretaceo, Brasil)." Anais da Academia Brasileira de Ciências, 60: 459–469.

 

Kellner, A. W. A., Campos, D. A. (1994). A new species of Tupuxuara (Pterosauria, Tapejaridae) from the Early Cretaceous of Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 66: 467–473.

 

Cerqueira G. M., Santos M. A., Marks MF, Sayão J. M., Pinheiro F. L. (2021). "A new azhdarchoid pterosaur from the Lower Cretaceous of Brazil and the paleobiogeography of the Tapejaridae". Acta Palaeontologica Polonica. 66. (3): 555-570.

 

Witton, M. P. (2009) A new species of Tupuxuara (Thalassodromidae, Azhdarchoidea) from the Lower Cretaceous Santana Formation of Brazil, with a note on the nomenclature of Thalassodromidae. Cretaceous Research, v. 30, p. 1293-1300.

 

Aires, A. S. S. (2013). Descrição de Novos Materiais Referentes à Tapejaridae (Pterosauria, Pterodactyloidea) da Formação Romualdo (Bacia do Araripe, Ceará, Brasil) (Dissertação de Mestrado).

 

Pinheiro, F. L. (2014). Contribuição ao conhecimento dos Pterossauros do Grupo Santana (Cretáceo Inferior) da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. (Tese de Doutorado).

 

Martill D. M., Naish D. (2006). Cranial crest development in the azhdarchoid pterosaur Tupuxuara, with a review of the genus and tapejarid monophyly. Palaeontology 49, 925-941.

 

http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/biblio%3Abarbosa-1951-pequeno/barbosa_1951_tupi-portugues.pdf

 

http://www.reptileevolution.com/tupuxuara.htm

 

http://www.reptileevolution.com/tupuxuara-goshura.htm

 

https://pterosaurheresies.wordpress.com/2013/09/13/ontogenetic-crest-development-in-tupuxuara/

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