top of page

Thalassodromeus sethi

Com uma crista óssea que se destaca em seu crânio, o Thalassodromeus sethi está entre os pterossauros mais bizarros que já existiram. Ele viveu a 110 milhões de anos atrás, no que hoje é o Nordeste brasileiro, quando a região era um braço de mar do recém-nascido Oceano Atlântico. Para suas presas não devia ser nada agradável ter a visão do animal voando em sua direção.

CLASSIFICAÇÃO:

 

FILO: CORDADO

CLASSE: REPTILIA

ORDEM: PTEROSAURIA

SUBORDEM: PTERODACTYLOIDEA

SUPERFAMÍLIA: AZHDARCHOIDEA

FAMÍLIA: TAPEJARIDAE

SUBFAMÍLIA: THALASSODROMINAE

GÊNERO: THALASSODROMEUS

ESPÉCIE: THALASSODROMEUS SETHI

Fig. 1: Retirado de https://carnegiemnh.org/thalassodromeus-sethi-had-a-crest-three-times/#search @AMNH 2014 – adaptado (07/06/2018 às 07:45).

DESCOBERTA:

   O Thalassodromeus foi encontrado no estado do Ceará, na região da Chapada do Araripe, próximo a cidade de Santana do Cariri. O ano era 1983 e um morador da região ao passear pelo local encontrou o crânio quase completo do pterossauro. Levou-o para casa e mais tarde doou o material para o Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral. A cidade de Santana do Cariri possui afloramentos do Membro Romualdo, dentro da Formação Santana, comumente associada ao Albiano, entre 113 e 100,5 milhões de anos atrás, durante o Cretáceo Inferior. Este foi o período de tempo que o Thalassodromeus provavelmente viveu.

    Embora, em 1990, um pequeno estudo tenha sido feito com o fóssil, ele permaneceu praticamente dezenove anos guardado nos arquivos do Museu Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Somente após esse tempo, no ano de 2002, os paleontólogos Alexander Kellner e Diogenes de Almeida Campos estudaram mais profundamente e o preparo do material permitiu o batizarem como Thalassodromeus. Este fato foi muito importante, não somente por se tratar de uma nova espécie de pterossauro, mas pelo fato do trabalho deles ter sido publicado na Revista Science: o primeiro contendo apenas pesquisadores brasileiros como autores. Isto foi de grande valia para a divulgação científica nacional, pois em revistas internacionais era rotina que artigos ou pesquisas na área da paleontologia brasileira contasse com pelo menos um autor estrangeiro. A partir deste momento os pesquisadores nacionais demonstraram que o Brasil tem sim autonomia para a realização de ótimas pesquisas na área da paleontologia.

 

Fig. 2: Crânio do Thalassodromeus encontrado, imagem retirada de Kellner & Campos (2002).

ETIMOLOGIA:

   O nome Thalassodromeus significa corredor dos mares, junção das palavras gregas thálassa e dromeus que significam respectivamente mar e corredor. Já o nome da espécie, sethi, é uma referência ao deus egípcio Seti. A escolha desse nome ocorreu porque os autores associaram a crista do Thalassodromeus com a coroa deste antigo deus. Contudo, conforme observou André Veldmeijer em 2006, num estudo sobre alguns pterossauros do Brasil, os autores confundiram qual deus possuía a coroa, pois o deus Amon-Rá é o único representado nos desenhos antigos com uma coroa de duas plumas altas, semelhante à crista do pterossauro.

 

 

Fig. 3: Retirado de http://thezt2roundtable.com/topic/9627993/1/ (07/06/2018 às 21:00).

O PTEROSSAURO:

 

    Com uma envergadura de até 4,5 metros de comprimento e uma altura de até 2 metros, contando com sua crista, o Thalassodromeus está entre os pterossauros mais interessante já descobertos. O seu maior chamativo é a enorme crista em sua cabeça, sendo ela totalmente óssea, completamente diferente de parente próximos, como o Tapejara, que possuía uma crista formada pela ligação da pele. De fato, sua cabeça na época da divulgação da descoberta era a segunda maior registrada para um pterossauro.

    Foi observado que esta crista continha inúmeras calhas que seriam do sistema circulatório do animal, indicando que ela era muito irrigada por sangue. Tal fato, somado ao grande tamanho da crista permitiu aos cientistas sugerirem opções para sua função: a primeira seria de identificação de membros da mesma espécie, visto o seu formato, terminando em V na ponta. Como era muito irrigado também pode ser possível que utilizasse a crista para a regulação da temperatura corporal, podendo ficar com a crista no sol para absorver calor e espalhar pelo corpo, ou mesmo ficar na sombra para refrescar. Também é possível que machos e fêmeas tivessem formatos de cristas distintos, de modo que os machos a tivessem muito chamativas para atrair o outro sexo.

   Todas estas opções são possíveis, porém a falta de mais fósseis da espécie acaba dificultado chegar a um consenso quanto a sua real função. Outra questão seria o real formato da crista, sendo estipulado por alguns pesquisadores que ela seria maior e não terminada em V, pois embora encontrado em excelente estado de preservação, a crista estaria fragmentada em alguns pedaços. Ainda assim, em estudo mais profundo realizado em 2018, foi mantido a concepção de que a crista seria no formato originalmente proposto.

   Além disso, outra polêmica está nos hábitos alimentares do Thalassodromeus. Como o Thalassodromeus tinha um bico fino, originalmente foi introduzido a ideia de que este pterossauro agisse como os pássaros talha-mar, que dão rasante na água apenas com sua mandíbula inferior e capturam diferentes animais marinhos. Inclusive seu nome, “corredor dos mares” remete a esta possível pratica de alimentação. Porém, com base em cálculos concluíram que seria aerodinamicamente difícil esse pterossauro realizar tal feito. Foi proposto então hábitos de predador terrestre, como alguns pássaros, de modo que ele caçasse animais no solo correndo nas quatro patas. Ainda não se chegou a uma conclusão, mesmo assim, este pterossauro está entre os animais mais interessantes já descobertos.

            

Fig. 4: Retirado de https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Thalassodromeus_DB.jpg (07/06/2018 às 07:30).

PTEROSSAURO NA TRANSILVÂNIA: UMA TARTARUGA

 

   No ano de 2014 os pesquisadores Gerald Grellet-Tinner e Vlad Codrea descreveram uma nova espécie de Thalassodromeus, batizada de Thalassodromeus sebesensis, sendo a mesma descoberta na Formação Sebes (que batizou o nome da espécie) da Bacia Trânsilvaniana, na Romênia. Sua identificação ocorreu em base a um único fóssil fragmentado do que seria a crista do animal.

   Os autores do trabalho observaram muitas questões interessantes: como a Bacia Trânsilvaniana era uma ilha nos tempos pré-históricos então a nova espécie era menor que Thalassodromeus brasileiro devido ao nanismo insular. O local do achado continha muitas plantas, portanto o pterossauro era herbívoro, tendo evoluído em conjunto com as angiospermas e tido um papel importante na sua distribuição. Por fim, também constatou que as ranhuras na crista seriam musculares, sendo então a crista muscular.

   Tudo isto muito interessante e importante, exceto por um detalhe, já que a Formação Sebes é datada para o final do Cretáceo, no Maastrichtiano, por volta de 72 a 66 milhões de anos atrás e o Thalassodromeus brasileiro viveu no Albiano, entre 113 e 100,5 milhões de anos atrás. É uma diferença entre espécie de pelo menos 42 milhões de anos, algo que os autores justificaram como sendo uma linhagem fantasma. As linhagens fantasmas ocorrerem quando espécies são encontradas em períodos de tempo muito distintos, o que implica a necessidade de mais estudos e revisões.

   Tão logo surgiu este estudo e muitos pesquisadores e especialistas em pterossauros analisaram e questionaram a descoberta. O paleontólogo Gareth Dyke com um grupo de colegas descobriram que o fóssil pertencia, na realidade, a uma espécie de tartaruga já conhecida na região, a Kallokibotion, visto que a suposta crista era o plastrão (a parte de baixo) da tartaruga. Cerca de 20 paleontólogos especialistas em pterossauros e tartarugas, de vários países como Brasil e Inglaterra, escreveram um texto apontando os erros do estudos e, mesmo muitas vezes estes mesmos autores serem “rivais” no estudo de fósseis, todos foram unanimes ao declarar que Thalassodromeus sebesensis jamais existiu.

   Contudo, a maior polêmica ocorreu com os autores do estudo que escreveram uma réplica à conclusão dos especialistas. Eles ainda defendiam sua tese e, de maneira não muito profissional, questionaram de forma pessoal os trabalhos de seus colegas, citando erros que os mesmo já cometeram em outros estudos. Afirmaram, em outro momento, a comunicação com autores brasileiros, embora os mesmos não confirmaram tal fato e, por fim, restringiram o acesso ao material fóssil original para estudo, embora dissessem na sua pesquisa que o mesmo se encontrava a livre disposição para pesquisadores.

   Todas estas questões são uma prova de quanto Thalassodromeus é um pterossauro bem polêmico e muito existe ainda para ser descoberto e entendido. Com o tempo mais respostas apareceram e, com certeza, terão mais embasamentos científicos e não apenas suposições mirabolantes.

Fig. 5: Arte de Mark Witton, retirado de http://markwitton-com.blogspot.com/2014/08/thalassodromeus-sebesensis-pterosaur.html (07/06/2015, às 07:20).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Kellner, A. W. A.; Campos, D. A. (19 July 2002). "The function of the cranial crest and jaws of a unique pterosaur from the early Cretaceous of Brazil". Science. 297 (5580): 389–392.

 

Rodrigo V. Pêgas, Fabiana R. Costa & Alexander W. A. Kellner, 2018, "New information on the osteology and a taxonomic revision of the genus Thalassodromeus (Pterodactyloidea, Tapejaridae, Thalassodrominae)", Journal of Vertebrate Paleontology, DOI: 10.1080/02724634.2018.1443273

 

Veldmeijer, A. J. (2006). "Toothed pterosaurs from the Santana Formation (Cretaceous; Aptian–Albian) of northeastern Brazil". Proefschrift Universiteit Utrecht: 1–269.

 

Dyke, G., M. Vremir, S. L. Brusatte, G. S. Bever, E. Buffetaut, S. Chapman, Z. Csiki-Sava, A. W. A. Kellner, E. Martin, D. Naish, M. Norell, A. € Osi, F. Pinheiro, E. Prondvai, M. Rabi, T. Rodrigues, L. Steel, H. Tong, B. C. Vila Nova, and M. Witton. 2015. Thalassodromeus sebesensis: a new name for an old turtle. Comment on “Thalassodromeus sebesensis, an out of place and out of time Gondwanan tapejarid pterosaur” by Grellet-Tinner and Codrea. Gondwana Research 27:1680–1682.

 

http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI27673-9531,00-BRASILEIROS+DESCOBREM+FOSSIL+DE+NOVA+ESPECIE+DE+PTEROSSAURO.html

 

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1907200202.htm

 

http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u18746.shtml

 

http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0088_imprimir.asp

 

http://www.bbc.com/portuguese/ciencia/020719_dinos1mtc.shtml

 

http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2574/n/cristas_e_sexo_na_vida_dos_pterossauros/Post_page/8

 

https://paleoufes.wordpress.com/2014/08/13/o-misterioso-caso-do-pterossauro-que-na-verdade-era-uma-tartaruga/

 

http://markwitton-com.blogspot.com.br/2017/10/appearance-and-lifestyle-of.html

 

http://markwitton-com.blogspot.com/2014/08/lies-damned-lies-and-thalassodromeus.html

bottom of page