DINOSSAUROS & AFINS
Berthasaura leopoldinae
A Bertassaura foi um pequeno dinossauro descoberto no Brasil, medindo um metro de comprimento e até 80 centímetros de altura. Réptil desdentado, ele é mais um dinossauro encontrado no Cemitério dos Pterossauros, no estado do Paraná, uma região que no passado foi um oásis dentro de um enorme deserto.
CLASSIFICAÇÃO:
FILO: CORDADO
CLASSE: REPTILIA
SUPERORDEM: DINOSAURIA
ORDEM: SAURISCHIA
SUBORDEM: TEROPHODA
INFRAORDEM: CERATOSAURIA
SUPERFAMÍLIA: ABELISAUROIDEA
FAMÍLIA: NOASAURIDAE
GÊNERO: BERTHASAURA
ESPÉCIE: BERTHASAURA LEOPOLDINAE
Fig. 1: arte de Maurílio de Oliveira, divulgação.
DESCOBERTA:
Desde a descoberta do Caiuajara, a cidade de Cruzeiro do Oeste, no estado do Paraná, tem atraído a atenção da comunidade paleontológica, visto a quantidade de fósseis de pterossauros descobertos no local, ao ponto de ser já nomeada como Cemitério dos Pterossauros. Além Caiuajaras, foram desenterrados fósseis de outros animais pré-históricos como o pterossauro Keresdrakon, a iguana Gueragama, e o dinossauro Verperssauro.
A análise de um bloco de terra contendo fósseis, recolhido entre 2011 e 2014, indicou se tratar de restos desarticulados, mas quase completos, de um dinossauro. Para a surpresa dos pesquisadores, se tratava de um novo tipo de terópode desdentado, pequeno e da família dos noassaurídeos, um grupo enigmático de dinossauros carnívoros, com poucos indivíduos conhecidos. Outra relevância do achado está no fato de ser um dos mais completos terópodes descritos até então para o território brasileiro e o primeiro dinossauro sem dentes da América do Sul.
Em novembro de 2021, a equipe de paleontólogos Geovane Alves de Souza, Marina Bento Soares, Luiz Carlos Weinschütz, Everton Wilner, Ricardo Tadeu Lopes, Olga Maria Oliveira de Araújo e Alexander Kellner apresentou o novo dinossauro brasileiro em artigo publicado em revista científica. Ele acrescenta mais um pouco de informação não apenas sobre os noassaurídeos, como também sobre a fauna de dinossauros brasileiros daquele ecossistema desértico antigo.
ETIMOLOGIA:
O nome Berthasaura é uma homenagem à paulistana Bertha Maria Júlia Lutz (1894 – 1976), famosa política, educadora, bióloga, diplomata e ativista da causa feminina, sendo a segunda mulher no Brasil a ser deputada federal. Ao longo da vida ela se destacou em diversos estudos científicos realizados e recebeu inúmeras homenagens póstumas. A terminação saura é o feminino de sauro, sendo que aqui se intencionou batizar o dinossauro neste gênero, pois acredita-se que o fóssil pertença a uma fêmea.
O nome da espécie leopoldinae é uma homenagem dupla, primeiro à Maria Leopoldina (1797 – 1826), primeira Imperatriz do Brasil, importante personagem feminina da história brasileira, entusiasta da ciência e incentivadora de diversas pesquisas e estudos em solo tupiniquim. A segunda homenagem é para a escola de samba Imperatriz Leopoldinense, que já trouxe em seu enredo o Museu Nacional, local onde o fóssil do Bertassaura está atualmente como parte do acervo.
Fig. 2: Fóssil com os restos da Bertassaura, retirado do artigo original (De Souza et. al., 2021).
O DINOSSAURO:
A Bertassaura era um dinossauro de um metro de comprimento, 80 centímetros de altura, possuía um focinho curto com o formato parecido com o de bico de papagaio, porém não muito pronunciado, era desdentado, tinha mãos bem curtas terminadas em pequenos dedos. Suas patas tinham três dedos, com um quarto elevado, que suportavam seu pouco peso, de até 10 quilos. Provavelmente, deveria possuir penas sobre o corpo, embora não haja evidências quanto a isso por enquanto.
Seu fóssil foi descoberto na Formação Goio-Erê, dentro do Grupo Caiuá, na Bacia Bauru, datado do Período Cretáceo, provavelmente entre as idades do Albiano e Aptiano, que vão de 125 à 100 milhões de anos atrás. Existe a possibilidade dessa formação ser mais recente, cerca de 93 milhões de anos atrás, mas isso ainda precisa ser apurado.
Naquela época, a região que vivia o Bertassaura era um imenso deserto, com oásis repletos de água e vegetação típica, onde também vivam pterossauros e outros répteis. Devido à não possuir dentes, estipula-se que Bertassaura fosse um dinossauro herbívoro ou onívoro, embora seja um terópode e tenha parentes em sua grande maioria carnívoros. Aliás, ele fazia partes dos noassaurídeos, dinossauros enigmáticos, que pareciam estar adaptados com diversos nichos ecológicos do mesozoico. Inclusive, há noassaurídeos que quando filhotes tinham dentes, porém os perdiam na fase adulta, o que não parece ser o caso da Bertassaura.
Seja como for, este dinossauro complementa mais um pouco de informações sobre o ecossistema brasileiro daquele tempo, em especial como os animais conseguiam sobreviver em climas tão áridos e com poucos alimentos à disposição. À medida que novas descobertas e estudos aconteçam, pondera-se saber muito mais.
Fig. 3: Arte de Namodinosaur, retirado de https://www.deviantart.com/namodinosaur/art/Berthasaura-898477096.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
De Souza, G. A., Soares, M. B., Weinschütz, L. C. et al. The first edentulous ceratosaur from South America. Sci Rep 11, 22281 (2021).